Ficha XI.- LIVRO DAS
FUNDAÇÕES –I
Capítulos 23-24
Começa o relato de
uma nova fundação, a do “Mosteiro do glorioso São José del Carmen, na cidade de
Sevilha”, com a primeira Missa no dia da Santíssima Trindade, 29 de Maio de
1575. A Madre interrompe a crónica com um breve retrato biográfico-espiritual
do Padre Jerónimo Graciano. A finalidade histórica cede o passo à intenção
pedagógica e mistagógica: aprender com os sucessos e vidas edificantes,
descobrir o mistério de Deus nos acontecimentos e factos providenciais
quotidianos e dá-lo a conhecer. ‘Historiar’ tudo para que permaneça sempre vivo
e fresco na memória das gerações futuras.
Pistas de
leitura
1- Teresa tem as suas
razões para dedicar todo um capítulo ao P. Jerónimo Graciano. Acha necessário
recordar a circunstância histórica do seu encontro com ele pela situação que
viviam então as comunidades de Descalços. A Providência de Deus assiste-os nas
necessidades da Ordem elegendo e enviando uma pessoa ‘íntegra’ para levar para
a frente a reforma (F 23,3.12-13; 24,1-2). É por isso que Graciano entra em
cheio no relato. E, como novo Comissário Apostólico para Andaluzia, é quem
(contrariando os desejos e projectos da Madre: F 24,4), lhe ordena levar para a
frente a fundação de Sevilha.
2- Como pano de fundo
histórico, recordemos que aos avatares e exigências inerentes a toda a fundação
se juntam, na de Sevilha, a desconformidade e os descontentamentos dos Calçados
em relação a fundações de Descalços/as na Andaluzia (F 24 20); o desentendimento
e incomunicação entre o Geral Rubeo e a Madre Teresa; e ainda a oposição do
bispo Fernando de Rojas y Sandoval pela fundação de um novo mosteiro em pobreza
(F 24,15-16). Com tudo isto terá de lidar a Madre nesta fundação1
Para reflectir, rever
a vida, interceder, agradecer, contemplar…
1- Ler com atenção a
descrição que Teresa faz de Graciano, a sua índole espiritual. Fazer uma lista
de qualidades humanas e virtudes. Teresa pondera é o que admira. Tudo é dom do
Senhor, a obra que Deus realizou na pessoa de Graciano para bem da Ordem. De
tudo isso, o que é que destacaríamos? O que é que achamos mais importante ou
necessário? Na nossa sociedade, na nossa realidade pastoral, quais as
qualidades que hoje a Ordem exige aos carmelitas para enriquecer e comunicar o
carisma herdado?
Ficha XI.- LIVRO DAS
FUNDAÇÕES – II
2- No relato da
vocação de Graciano, sobressai em tudo a Providência de Deus. Ele tem os seus
planos, e os leva a cabo através de mediações e circunstâncias que parecem
fortuitas, que escapam à consciência e à intenção inicial de Graciano: “Oh!
Sabedoria e poder de Deus! Como é certo não podermos nós fugir ao que é a Sua
Vontade!” (F 23,3). Como compreendemos hoje esta afirmação de Teresa?
Descobrimos a Providência divina na nossa vocação, no nosso caminho de
seguimento de Jesus, no discernimento da sua vontade na nossa vida? A que
mediações damos valor? De quais sentimos falta?
3- Teresa dedica
vários parágrafos à presença e mediação da Virgem Maria (F 23,1-4-6.8-13).
Reflecte, à luz destas afirmações, a tua própria experiência mariana.
4- O relato das
qualidades de Graciano como superior (F 23, 7.10) e a descrição da
personalidade e comportamento do prior de Pastrana (23,9) revela-nos duas
formas de governo: algo assim como ‘um ideal’ e uma desfiguração do ideal. -
Debater o tema: as razões e as conclusões da Madre, e confrontá-las com a nossa
experiência no exercício da autoridade (nas responsabilidades que nos tocam) ou
com a nossa resposta teologal à autoridade que outros exercem como serviço na
Igreja.
5- Depois de longos
parágrafos revelando a história e a intimidade de Graciano. Teresa justifica-se
(F 23,11-13). Tem as suas razões para ‘fazer memória’ delas. - Reflectir sobre
a importância da memória e do relato. Confrontá-lo com a nossa forma de
compreender, viver e transmitir o carisma recebido de Deus, seja qual for o
estado de vida. Pode inspirar um momento de oração e de louvor.
6- Teresa, com
espírito de fé, cede perante as exigências do novo Comissário Apostólico para a
Andaluzia. Renuncia à fundação de Caravaca (contra o seu parecer, revelações
particulares e desejos) e obedece a Graciano (F 24,4). Compartilhar as nossas
dificuldades perante o discernimento da vontade de Deus, perante o
reconhecimento e a obediência a Deus nas suas mediações.
Ficha XI.- LIVRO DAS
FUNDAÇÕES – III
7- A Santa relata as
fundações contando os inconvenientes ou peripécias do caminho. Fá-lo com muita
vivacidade e humor (F 24,5ss). Não faltam episódios daqueles oito dias de caminho.
A eles se acrescenta “mais de um mês” de espera da licença para fundar. Uma
espera amassada com paciência nos dias mais duros do verão andaluz2. Mas Teresa
nunca perde ocasião para tirar sempre um ensinamento, alguma aplicação à vida
espiritual ou um motivo para descobrir a Providência e o próprio ser de Deus. -
Quais são os que descobres nestes dois capítulos? Para meditar e partilhar:
“Sua Majestade dá sempre os trabalhos com piedade” (F 24,11).
8 - A Madre pondera
as qualidades das irmãs que leva como fundadoras. A segurança e fortaleza que
lhe inspira a virtude provada das suas monjas. – Somos receptivos e agradecidos
para com as qualidades e virtudes dos outros? – Sentimo-nos amparados,
edificados, estimulados pelos irmãos? – Sabemos compartilhar ideais, tarefas ou
responsabilidades, confiando nos outros? – Que atitudes e virtudes deveríamos
cultivar mais para viver a fraternidade e confiança mútua nos nossos projectos
comunitários/familiares?
1(Cf. T.ALVAREZ,
Comentarios al libro de las “Fundaciones” de Santa Teresa de Jesús. Monte
Carmelo, Burgos 2011, 117-121)
2 A leitura desta
fundação pode completar-se com a descrição pormenorizada e amena do P. Efrém da
Mãe de Deus e O. Steggink, em Tiempo y vida de Santa Teresa, BAC, Madrid 1968,
P II, nº 386-411.
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