segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Capítulo 6




Capítulo 6
Trata do muito que ficou devendo ao Senhor por este lhe ter dado conformidade em tão grandes sofrimentos e de como tomou por mediador e advogado o glorioso S. José, e do grande proveito que disso obteve.
1. Fiquei, depois desses quatro dias de paroxismo, num estado tal que só o Senhor pode saber os insuportáveis tormentos que sentia em mim. De tão mordida, a língua estava dilacerada; a garganta, devido a eu nada ter ingerido e à minha grande fraqueza, me deixava quase sem respirar, pois nem água eu podia engolir; eu parecia estar inteiramente desconjuntada, com a cabeça em grande desatino. Aquele tormento me fez ficar encolhida, como se fosse um novelo, incapaz de mover os braços, os pés, as mãos e a cabeça, como se estivesse morta, sem ajuda; creio que só movia um dedo da mão direita. Era difícil me tocarem, pois eu sentia tantas dores que não podia suportá-lo. Usavam um lençol, que duas pessoas seguravam, uma de cada lado, para me mudarem de posição.
Isso durou até a Páscoa Florida. Eu só sentia alívio quando não se aproximavam de mim; as dores então muitas vezes cessavam, e eu, por descansar um pouco, me considerava curada, o que traía o temor de que me viesse a faltar paciência. Fiquei muito contente quando deixei de sentir dores tão con tínuas e agudas, embora ainda fossem insuportáveis quando me acometiam os calafrios intensos das violentas febres interminentes que ainda me afligiam; todo alimento me repugnava.
2. Eu tinha tanta pressa de voltar ao meu mosteiro que fiz com que me levassem para lá nesse estado. Receberam viva quem esperavam morta; o corpo, no entanto, estava pior do que morto, dando pena vê-lo. Era tamanha a minha fraqueza que posso dizer: tinha apenas ossos. Fiquei nessa condição por mais de oito meses. Mesmo tendo melhorado, fiquei paralítica por quase três anos. Quando comecei a andar de gatinhas, louvei a Deus. Padeci com grande conformidade e, exceto no começo da doença, até com alegria. Em comparação com as dores e tormentos do princípio, tudo o mais pouco representava. Eu estava conformada com a vontade de Deus, mesmo que Ele me deixasse para sempre naquele estado.
Eu ansiava pela cura, unicamente para voltar a ter solidão e orar, o que, na enfermaria, não era possível. Confessava-me com freqüência e sempre falava de Deus, de maneira que todas as companheiras se sentiam edificadas, admirando-se da paciência que o Senhor me concedia; porque, sem a intervenção de Sua Majestade, parecia impossível alguém sofrer tanto mal com tanta alegria.
3. Muito me beneficiaram as dádivas recebidas do Senhor na oração; esta me levava a compreender o que era amá-lo. Naquele pouco tempo, vi surgirem em mim novas virtudes, embora não de todo fortes, visto não me terem sus­tentado no caminho da justiça: não tratar mal a ninguém, por menos que fosse. Em geral, eu evitava todos os murmúrios, pois tinha bem presente não querer dizer de outra pessoa o que não queria dissessem de mim. Eu levava isso ao extremo nas diversas ocasiões; a perfeição não era tanta, pois havia ocasiões, e não eram raras, em que eu fracassava; e em geral era assim. Isso convenceu a tal ponto as pessoas que me cercavam e que se relacionavam comigo que elas passaram a praticá-lo. Todas vieram a entender que, onde eu estava, não tinham o que temer quando se fossem; nesse aspecto, seguiam aquelas com quem eu tinha amizade e parentesco, e a quem ensinava; embora, em outras coisas, eu tenha boas contas a prestar a Deus pelo mau exemplo que lhes dava.
Que Sua Majestade me perdoe, pois causei muitos males, embora a minha intenção não fosse tão má quanto depois o foram os atos.
4. Passei a desejar a solidão, amiga de tratar e falar de Deus; se encontrasse alguém com quem fazê-lo, eu obtinha disso mais alegria e satisfação do que em todos os requintes — melhor dizendo, em toda a grosseria — da conversação do mundo; comungava e confessava-me com muito mais freqüência, sempre desejando fazê-lo. Amiga de ler bons livros. Quando ofendia a Deus, eu muito me arrependia, a ponto de, muitas vezes, não ousar fazer oração por temer o profundo pesar que ia sentir por tê-Lo ofendido, o que era um grande castigo para mim. Essa atitude cresceu a tal ponto que não sei a que comparar esse tormento. E não era por temor, pouco ou muito, jamais! Afligia-me a lembrança dos dons que o Senhor me fazia na oração e do muito que lhe devia, e de quão insignificante era a minha retribuição. Essa idéia me perturbava ao extremo, e foram muitas as lágrimas que derramei por minhas culpas, pois via que eu pouco me corrigia; pois não bastavam mi­nhas decisões nem a dor que me vinha para que eu não fraquejasse. Pareciam-me lágrimas enganosas, aumentando a minha culpa, porque eu via a grande graça que o Senhor me dava ao conceder-lhes por companhia um tão grande arrependimento. Eu procurava me confessar logo e tudo fazia para voltar à graça.

O mal estava todo em não cortar pela raiz as ocasiões e no fato de eu ter confessores que pouco me ajudavam; se eles me dissessem que eu corria perigo e que tinha a obrigação de evitar aqueles tratos, tudo sem dúvida se remediaria; porque, se disso tivesse consciência, eu de forma alguma passaria um só dia em pecado mortal.
Todos esses sinais de temor a Deus vieram-me com a oração; e, melhor que tudo, o amor substituiu o temor, sem que eu me lembrasse do castigo. No período em que a minha saúde ia tão mal, a minha consciência sempre foi despertada para os pecados mortais. Oh! Valha-me Deus! Eu desejava a saúde para melhor servi-Lo, e isso causou todo o meu mal!
5. Vendo-me tão tolhida com tão pouca idade, e por não me valerem os médicos da terra, resolvi recorrer aos do céu para que me curassem; embora suportasse os sofrimentos com muita alegria, eu ainda desejava a saúde, imaginando que, com ela, serviria muito mais a Deus, embora pensasse que, se ficar curada servisse para me condenar, seria melhor continuar doente. Um dos nossos enganos é não nos submeter por inteiro ao que o Senhor faz, pois Ele sabe melhor do que nós o que nos convém.
6. Comecei a mandar celebrar missas e a fazer orações aprovadas, pois nunca fui amiga de outras devoções praticadas por certas pessoas, mulheres em especial, com cerimônias que, parecendo-me insuportáveis, lhes causavam devoção; depois entendi que não convinham, que eram supersticiosas. Assim, tomei por advogado e senhor o glorioso São José, encomendando-me muito a ele. Vi com clareza que esse pai e senhor meu me salvou, fazendo mais do que eu podia pedir, tanto dessa necessidade como de outras maiores, referentes à honra e à perda da alma. Não me lembro até hoje de ter-lhe suplicado algo que ele não tenha feito. Espantam-me muito os grandes favores que Deus me concedeu através desse bem-aventurado Santo, e os perigos, tanto do corpo como da alma, de que me livrou. Se a outros santos o Senhor parece ter concedido a graça de socorrer numa dada necessidade, a esse Santo glorioso, a minha experiência mostra que Deus permite socorrer em todas, querendo dar a entender, que São José, por ter-Lhe sido submisso na terra, na qualidade de pai adotivo, tem no céu todos os seus pedidos atendidos.
O mesmo viram, por experiência própria, outras pessoas a quem aconselhei que se encomendassem a ele, também por experiência; e há hoje muitas que lhe são devotas de novo, experimentando essa verdade.1
7. Eu procurava festejá-lo com toda a solenidade, movida mais pela vaidade do que pelo espírito, querendo que tudo fosse perfeito e primoroso, embora com boa intenção. Mas havia algo de mau: se o Senhor me dava a graça de fazer um bem, eu o fazia com imperfeições e muitas faltas. Para o mal, para os exageros e para a vaidade, era grande a minha esperteza e diligência. Que o Senhor me perdoe!
Eu queria persuadir todos a serem devotos desse glorioso Santo, pela minha grande experiência de quantos bens ele alcança de Deus. Não conheço nenhuma pessoa que realmente lhe seja devota e a ele se dedique particularmente, que não progrida na virtude; porque ele ajuda muito as almas que a ele se encomendam. Há alguns anos, sempre lhe peço, em seu dia, alguma coisa, nunca deixando de ser atendida. Se a petição vai algo torcida, ele a endireita para maior bem meu.
8. Se eu fosse pessoa cujos escritos tivessem autoridade, de bom grado descreveria longamente as graças que esse glorioso Santo tem feito a mim e a outras pessoas; mas, para não fazer mais do que me mandaram, em muitas coisas serei mais breve do que gostaria e, em outras, me alargarei mais do que devo, como quem em tudo o que é bom tem pouca discrição. Só peço, pelo amor de Deus, que quem não me crê o experimente, vendo por experiência o grande bem que é encomendar-se a esse glorioso patriarca e ter-lhe devoção. As pessoas de oração, em especial, deveriam ser-lhe afeiçoadas; não sei como se pode pensar na Rainha dos Anjos, no tempo em que tanta angústia passou com o Menino Jesus, sem se dar graças a São José pela ajuda que lhes prestou. Quem não encontrar mestre que ensine a rezar tome por mestre esse glorioso Santo, e não errará no caminho. Queira o Senhor que eu não tenha cometido erro por me atrever a falar dele; pois, embora apregoando que lhe sou devota, em servi-lo e imitá-lo sempre falhei.
Pois ele mostrou quem é ao fazer que eu me levantasse, andasse, e não mais ficasse paralítica. Também eu mostrei quem sou, usando tão mal esse favor.
9. Quem diria que eu cairia tão depressa depois de receber tantas bênçãos de Deus, depois de haver sua majestade começado a dar-me virtudes que me estimulavam a servi-lo, depois de, quase morta, correndo o risco da condenação, ter tido a alma e o corpo ressuscitados, provocando a admiração de todos? Que é isso, Senhor meu? Teremos de viver vida tão perigosa? Enquanto escrevo isto, parece-me que, com o Vosso favor e a Vossa misericórdia, eu poderia dizer, com São Paulo, embora sem tanta perfeição, que: Não sou eu quem vive; é Cristo,Criador meu, que vive em mim.2 Pelo que sei, Vossa mão me sustenta há vários anos; percebo-o agora pelos meus desejos e determinação de nada fazer, por mais insignificante, contra a Vossa vontade. E, de algum modo, eu o tenho provado por experiência, nesses anos, em muitas coisas, por pequenas que sejam, não obstante muito tenha ofendido a Vossa Majestade sem o saber. E também me parece que não há tarefa que eu deixe de executar, com grande empenho, por amor a Vós. Na verdade, em muitas ocasiões tenho tido, para realizá-la, ajuda Vossa. Nada quero com o mundo nem com as suas coisas, nem me traz alegria o que não vem de Vós; tudo o mais me parece uma pesada cruz.
É bem possível que eu me engane, não tendo o que digo; mas Vós sabeis, meu Senhor, que, pelo que me é dado saber, não minto, e temo, com muita razão, que volteis a me abandonar. Conheço bem o ponto a que chegam minha força e minha pouca virtude quando não me confortais nem me ajudais para que eu não me afaste de Vós. Queira Vossa Majestade que, agora mesmo, eu não esteja afastada de Vós por sentir como meu o que acabo de dizer.
Não sei como queremos viver, já que tudo é tão incerto. Parece-me, Senhor meu, que já me é impossível deixar-Vos tão inteiramente como já Vos deixei tantas vezes; não posso evitar temer que, se Vos apartardes um pouco de mim, tudo venha abaixo. Bendito sejais para sempre, porque, mesmo quando Vos deixei, Vós não vos afastastes de mim por inteiro, dando-me sempre a mão para que eu voltasse a me levantar; muitas vezes, Senhor, eu não a queria, nem procurava ouvir quando me chamáveis de novo, como agora direi.

sábado, 16 de janeiro de 2010

capitulo 5


Capítulo 5

Continua a falar das grandes enfermidades que teve e da paciência que o Senhor lhe deu para suportá-las, e diz como Ele do mal extrai o bem, como se verá pelo que aconteceu a ela no lugar ao qual foi para curar-se.

1. Esqueci de dizer que, no ano de noviciado, tive grandes desassossegos com coisas que, em si, pouca importância tinham. Culpavam-me muitas vezes sem que eu tivesse culpa, e eu sofria com muitos desgostos e imperfeições, em­bora o meu grande contentamento com o fato de ser monja a tudo compen sasse. Como me viam buscar a solidão, bem como chorar algumas vezes por meus pecados, pensavam que eu estivesse descontente, e o diziam.

Eu gostava de todos os costumes religiosos, mas não tolerava sofrer o que me parecesse menosprezo. Apreciava que gostassem de mim, dedicava--me a tudo o que fazia. Tudo me parecia virtuoso, embora isso não me sirva de des culpa, porque eu sabia procurar o que me dava prazer, razão por que a ignorância não me tira a culpa. O fato de o mosteiro não estar fundado em muita perfeição pode relevar algumas faltas minhas; contudo, por minha ruin dade, eu acolhia o que era defeituoso e desprezava o que era bom.

2. Uma das religiosas sofria então, prostrada por grande e dolorosa enfer midade; devido a uma obstrução, fizeram-lhe abertura no ventre, por onde re gurgitava tudo o que comia. Em pouco tempo faleceu. Eu via todas temerem aquele mal, mas tinha grande inveja de sua paciência; pedia a Deus que, dando-me semelhante paciência, também me desse as enfermidades que dese jasse. Parece-me que eu não temia nenhuma, pois estava tão determinada a obter bens eternos que me dispunha a ganhá-los por qualquer meio. E espanto-me porque então ainda não tinha — a meu ver — amor a Deus, como acreditei que tivesse depois que comecei a fazer orações. Tratava-se apenas de uma luz que me levava a ver o pouco valor do perecível e o alto preço dos bens que com ele se podem ganhar, visto serem eternos.

Sua Majestade me ouviu tanto que, em menos de dois anos, a minha condição era tal que, embora diferente daquela, a minha enfermidade não foi menos dolorosa nem deu menos trabalho; durou três anos, como agora vou narrar.

3. Chegado o momento de ir me tratar, que eu aguardava com a minha irmã nesse lugar,1 esta, o meu pai e a monja amiga minha que viera comigo, e que muito gostava de mim, me levaram com extremo cuidado.

O demônio logo começou a inquietar minha alma, mas Deus retirou dis so grandes benefícios. No lugarejo onde fui me curar,2 morava um sacerdo te que, além de nobre e inteligente, tinha alguma instrução. Comecei a confessar --me com ele, porque sempre fui amiga das letras, apesar do grande dano que me tinham feito confessores mais ou menos letrados, a quem eu recorria por não encontrar algum mais instruído. Sei por experiência que é melhor que os re li­gio sos, sendo virtuosos e de vida santa, sejam antes totalmente ignorantes do que doutos pela metade. Os ignorantes não confiam em si, consultando os mais sábios; os verdadeiramente cultos nunca se enganam, ao passo que os ou tros, embora não pretendam enganar, também não sabem mais do que ensinam. Eu achava que os confessores de pouca instrução fossem competentes, julgando que bastava apenas lhes dar crédito. Por outro la do, a doutrina que me transmi tiam era ampla e de maior liberdade. Se assim não fosse, sou tão ruim que por certo buscaria outros. O que era pecado ve nial, eles me diziam não ser pe cado; o que era pecado mortal gravíssimo, diziam que era venial. Isso me fez tanto mal que é preciso dizê-lo aqui, para alertar ou tras pessoas sobre os danos que isso traz. Bem sei que isso não é desculpa aos olhos de Deus; o simples fato de certas coisas não serem boas em si devia ser suficiente para que eu as evi tasse. Creio que, por causa dos meus pecados, Deus permitiu que esses con fessores se enganassem e me enganassem. E eu en ganei outras tantas pes soas por lhes transmitir o mesmo que eles me tinham dito.

Fiquei com essa cegueira, creio eu, por mais de dezesseis anos, até que um padre dominicano,3 grande erudito, dissipou esses erros; os da Companhia de Jesus incutiram em mim um saudável temor, revelando-me a gravida de de princípios tão maus, como depois vou contar.

4. Assim, comecei a confessar-me com o sacerdote de que falei; ele se afei ço ou muito a mim, porque então eu tinha pouco o que confessar, em com paração com o que tive, depois de me tornar monja. Sua afeição não era má, mas, em seu excesso, deixou de ser boa. Ele passou a acreditar que eu jamais faria coisas graves contra Deus por nada deste mundo; ele também me assegurava isso, sendo muita a confiança recíproca. Fascinada por Deus, o que mais me agradava era falar somente Dele. E, sendo eu tão jovem, o sa cerdote ficou, diante disso, muito confuso. Por fim, dada a grande amizade que tinha por mim, começou a me confessar a perdição em que vivia. E não era pouca, porque há quase sete anos ele estava em situação muito perigosa, com amizade e relações com uma mulher do lugar, mas, ainda assim, dizia missa. Era uma coisa tão pública que ele perdera a honra e a fama, e ninguém ousava contestá-lo. Isso me entristeceu muito, pois era grande a minha amizade por ele. Eu tinha a grande leviandade e cegueira, que me parecia virtude, de ser grata e pagar na mesma moeda aos que me queriam bem. Maldito seja esse princípio, que chega a ponto de ser contra os de Deus! É um despropósito comum no mundo que me desatina: devemos todo o bem que nos fazem a Deus, mas temos como virtude, embora indo contra Ele, manter essa ami za de. Ó cegueira do mundo! Quem dera, Senhor, que eu tivesse sido in grata com todos, mas sem me opor em um único ponto a Vós! No entanto, devido aos meus pecados, ocorreu o contrário.

5. Procurando saber e me informar com as pessoas de sua casa, entendi melhor a sua perdição e percebi que o pobre não tinha tanta culpa; porque a desventurada mulher havia posto feitiços num idolozinho de cobre, que lhe rogara trouxesse ao pescoço por amor a ela. E ninguém tinha sido capaz de tirá-lo dele.

Decididamente não acredito em feitiços; mas digo o que vi, para avisar aos homens que se afastem de mulheres que recorrem a semelhantes ardis. Acre ditem que, sendo obrigadas, mais do que os homens, a ter honestidade, as mulheres, ao perderem a vergonha diante de Deus, em nada merecem con fiança, porque, para levar adiante a sua vontade e o desejo que o demônio lhes incute, são capazes de tudo. Embora tenha sido tão ruim, eu nunca caí em nada dessa espécie, e jamais pretendi fazer mal ou forçar alguém, mesmo que pudesse, a gostar de mim, porque o Senhor me protegeu disso; mas, se Ele me tivesse permitido, eu também teria feito mal em outros planos, pois em mim não há nada digno de confiança.

6. Assim, como soube disso, comecei a demonstrar-lhe mais afeição. A minha intenção era boa, mas a ação, má, pois não se deve, por maior que seja o bem que se deseje conseguir, fazer um pequeno mal. Eu falava muito de Deus. Isso devia lhe trazer proveito, mas creio que ele era movido, sobretudo, por me querer muito. Desejando agradar-me, terminou por me entregar o ido lozinho, que eu logo mandei jogar no rio. Assim que este desapareceu, ele começou, como quem desperta de um grande sono, a se dar conta de tudo o que fizera naqueles anos; e, espantado consigo mesmo, sofrendo pela sua per dição, começou a libertar-se dela. Nossa Senhora deve tê-lo ajudado muito, pois ele era muito devoto de sua Conceição, festejando-a, naquele dia, com muito fervor. Por fim, deixou de ver a mulher, e não se cansava de dar graças a Deus por havê-lo iluminado.

Exatamente um ano depois que o conheci, ele faleceu. Por todo esse tempo, perseverou no serviço de Deus. Nunca achei que a sua afeição por mim fosse má, embora pudesse ter sido mais pura; mas também houve ocasiões em que, não estivesse a lembrança de Deus bem presente, ele podia ter cometido ofensas mais graves. Como já disse,4 eu não seria capaz de cometer o que considerasse pecado mortal. Parece-me que essa minha disposição o aju dava a ter amizade por mim; pois creio que todos os homens devem ser mais amigos de mulheres inclinadas à virtude; por esse caminho, elas têm mais a ganhar, como depois direi. Tenho certeza de que aquele sacerdote está no caminho da salvação. Morreu muito bem, e bem afastado de suas antigas faltas. Parece que o Senhor desejou salvá-lo por esse meio.

7. Penei naquele lugar durante três meses, porque o tratamento foi mais forte do que a minha compleição. Em dois meses, graças aos remédios, a mi nha vida quase chegou ao fim; as dores no coração, de que me fora curar, au­mentaram tanto que eu às vezes sentia que ele era rasgado por dentes agudos, a ponto de temerem que eu tivesse contraído raiva. Fiquei muito fra ca (porque não podia comer nada, apenas bebendo um pouco, e com esfor ço), com febre contínua, e muito desgastada, devido a quase um mês de pur ga tivos diários. Estava tão ressequida que meus nervos começaram a doer de maneira insuportável, não me dando descanso nem de dia nem à noite. Sentia uma tristeza muito profunda.

8. Diante disso, meu pai voltou a me levar aos médicos; todos me desen ganaram, dizendo que, além de todos os males, eu estava tuberculosa. Isso não me incomodava muito; o que me fatigava eram as dores, porque eram con­tínuas, e dos pés à cabeça. Os próprios médicos diziam serem essas dores es pasmódicas intoleráveis. Eu sofria duros tormentos e, graças a Deus, não perdi, por minha culpa, tantos méritos.

Fiquei sofrendo assim por três meses; e parecia impossível que alguém pu desse suportar tantos males ao mesmo tempo. Hoje me espanto e considero gran de graça do Senhor a paciência que Ele me deu, pois era claro que vinha De le. Para tê-la, muito me serviu ter lido a história de Jó, nas Moralia5 de São Gre gório. Creio que o Senhor me preparou com isso, e com a oração, que eu co meçara a fazer, para eu poder suportar os meus males com tanta conformida de. Meu pensamento estava sempre no Senhor. Lembrava-me amiúde das pala vras de Jó, que costumava repetir: Se das mãos do Senhor recebemos os bens, por que não sofreremos também os males?6 Ao que parece, isso me dava forças.

9. Veio a festa de Nossa Senhora de Agosto. O tormento vinha desde abril, embora tivesse aumentado nos últimos três meses. Apressei-me a confessar-me, pois sempre gostei de fazê-lo freqüentemente. Pensaram que eu tinha medo de morrer e, para não me alarmar, meu pai não consentiu. Ó amor carnal demasiado, que mesmo vindo de um pai tão católico, e tão esclarecido, o que ele era em grande grau, não tendo agido por ignorância, tanto mal me poderia fazer! Naquela noite, tive um paroxismo tão forte que fiquei sem sentidos por quase quatro dias. Administraram-me o Sacramento da Unção dos Enfermos, pensando que eu poderia morrer a qualquer hora. Não paravam de repetir o Credo, como se eu entendesse alguma coisa. Tinham tanta certeza de que eu morreria que até cera achei depois nos olhos.7

10. Foi grande o pesar do meu pai de não me ter permitido confessar-me; muitos foram seus clamores e orações a Deus. Bendito seja Aquele que se dignou ouvi-lo; há um dia e meio a sepultura estava aberta no meu mosteiro à espera do corpo, e já tinham sido feitas as exéquias num convento de frades fora da cidade, quando o Senhor quis que eu recuperasse os sentidos. Desejei logo confessar-me. Comunguei com muitas lágrimas; para mim, contudo, não eram só de sentimento e de pena por ter ofendido a Deus — isso teria bastado para me salvar, não me desculpando o engano, em que alguns confessores me fizeram cair, ao dizerem que não eram pecado mortal certas coisas que sem dúvida o eram. Porque as dores com que fiquei eram insuportáveis, não me permitindo a plena recuperação dos sentidos, embora, a meu ver, a minha confissão tenha incluído todas as minhas faltas contra o Senhor. Entre outras, Sua Majestade me concedeu a graça de, depois que comecei a comungar, jamais deixar de confessar qualquer coisa que eu considerasse pecado, mesmo venial. Mas por certo acho muito duvidosa a minha salvação se eu tivesse morrido então; de um lado, por serem tão pouco instruídos os confessores e, de outro, por ser eu tão ruim — para não dar muitos outros motivos.

11. Neste ponto da minha vida, vendo que, de certa maneira, o Senhor me ressuscitou, é tão grande o meu espanto que chego a tremer. Creio que foi para que visses, alma minha, de que perigo o Senhor te livrava; já que por amor não dei xavas de ofendê-lo, tu o fizeste, ao menos, por temer os castigos, porque Ele po deria matar-te outras mil vezes numa condição ainda mais pe rigosa. Acho que não exagero muito ao falar outras mil, mesmo que seja re­preendida por quem me mandou ter moderação ao narrar os meus pecados. Por isso, formoseados vão.

Peço que, pelo amor de Deus, essa pessoa em nada diminua as minhas cul pas, para que brilhe mais a magnificência de Deus e se perceba o que sofre uma alma. Bendito seja Ele para sempre. Queira Sua Majestade que eu antes me consuma a deixar de lhe ter amor.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

LIVRO DA VIDA - Capítulo 4




Diz como o Senhor a ajudou a triunfar sobre si mesma

para tomar o hábito e das muitas doenças que Sua

Majestade começou a lhe dar.


1. Na época em que eu estava preocupada com essas decisões, convenci um dos meus irmãos a se tornar frade,1 persuadindo-o da vaidade do mundo; e re­solvemos ir juntos um dia, bem de manhã, ao mosteiro onde estava aquela mi­nha amiga — esse era o mosteiro que mais me agradava.2 Naquele momento, eu es­tava de tal modo decidida a ser monja que teria ido a qualquer mosteiro on­de pudesse servir mais a Deus ou que agradasse ao meu pai. Eu estava voltada para curar a minha alma e dedicava o maior descaso à minha comodidade.

Lembro-me bem, e creio que com razão, que o meu sofrimento ao deixar a casa paterna não foi menor que a dor da morte.3 Eu tinha a impressão de que os meus ossos se afastavam de mim e que o amor de Deus não era maior do que o amor ao meu pai e à minha família, sendo necessário fazer tamanho esforço que, se o Senhor não me tivesse ajudado, as minhas conside­rações não teriam bastado para que eu prosseguisse. No momento certo, o Senhor me deu ânimo na luta contra mim mesma e, assim, levei adiante o meu propósito.

2. Quando tomei o hábito, o Senhor logo me fez compreender como favorece os que se esforçam por servi-Lo. Ninguém percebeu o meu esforço, mas só a minha imensa vontade. Ao fazê-lo, tive tal alegria de ter abraçado aquele estado que até hoje permaneço com ela; Deus transformou a aridez que tinha a minha alma em magnífica ternura. As observâncias da vida religiosa eram um deleite para mim; na verdade, nas vezes em que varria, em horários que antes dedicava a divertimentos e vaidades, me vinha uma estranha felicidade não sei de onde, diante da lembrança de estar livre de tudo aquilo.

Quando me lembro disso, não existe nada, por mais difícil e penoso, que eu deixe de realizar se puder. Na minha experiência de muitas ocasiões, se faço o esforço inicial, determinando-me a fazê-lo (sendo só por Deus, Ele quer — para o nosso maior merecimento — que a alma sinta aquele pavor até começar e, quanto maior ele for, maior a recompensa, e mais saborosa se tor­na depois), ainda nesta vida nos premia Sua Majestade por caminhos que só quem passa por isso o entende. Sei disso por experiência, como disse, em mu­i­tas coisas deveras graves; por isso, jamais aconselharia, se tivesse de fazê-lo, que, quando vier uma boa inspiração repetidas vezes, se deixe, por me­do, de empreendê-la; porque, se o fizermos somente por Deus, não há por que temer o fracasso, pois poderoso é Ele em tudo. Bendito seja para sempre. Amém.

3. Bastariam, ó sumo Bem e descanso meu, as mercês que me tendes feito até aqui: trazendo-me, por tantos rodeios da Vossa piedade e grandeza, a uma condição tão segura e a uma casa com tantas servas Suas que me podem servir de exemplo para ir crescendo em Vosso serviço. Não sei como prosseguir ao me lembrar como cheguei à minha profissão,4 a grande determinação e contentamento com que o fiz, a aliança que fiz convosco. Não posso dizê-lo sem lágrimas; e estas teriam de ser de sangue, despedaçando-me o coração, e ainda assim não seria demasiado pelo tanto que depois Vos ofendi.

Tenho agora a impressão de que estava certa em recusar tão grande dignidade, pois a haveria de usar muito mal. Mas Vós, Senhor meu, quisestes ser — nos quase vinte anos em que tenho empregado mal essa mercê — o ofendido, para que eu fosse melhorada. Até parece, Deus meu, que prometi não cumprir nada do que Vos havia prometido, embora na época esse não fosse o meu propósito; mas, depois, prossegui de tal maneira que já não sei o que pretendia. Isso manifesta ainda mais quem sois Vós, Esposo meu, e quem sou eu. Pois é verdade que muitas vezes o sentimento de minhas grandes culpas é temperado pelo contentamento que me dá a compreensão da multiplicidade das Vossas misericórdias.5

4. Em quem, Senhor, poderiam essas misericórdias brilhar senão em mim, que tanto obscureci com minhas obras más os grandes favores que co­­me­çastes a me conceder? Ai de mim, Criador meu, que não posso me descul­par por nenhuma desculpa ter, só podendo culpar a mim mesma! Para retribuir um pouco do amor que começastes a me mostrar, só em Vós eu poderia empregar o meu amor, o que teria remediado todo o mal. Como não o mereci, nem tive tanta ventura, valha-me agora, Senhor, a Vossa misericórdia.

5. Mudar de vida e de alimentação causou-me danos à saúde. Embora fosse grande a alegria, não o suportei. Os desmaios aumentaram, com uma dor no coração de tamanha intensidade que todos os que me viam se espantavam, ao lado de tantos outros males. O primeiro ano, eu o fui passando com a saúde bem abalada, embora não me pareça ter ofendido muito a Deus. Era tão grave a doença que eu ficava quase sempre privada de sentidos, chegando às vezes a perdê-los de fato. Meu pai se empenhava em encontrar algum remédio. Como os médicos daqui não resolveram, ele decidiu me levar a um lugar muito famoso na cura de outras enfermidades, onde, pelo que lhe disseram, eu também me livraria do meu mal.6 Acompanhou-me a amiga que, como eu disse, era antiga na casa,7 porque em nosso convento não se fazia voto de clausura.

6. Fiquei quase um ano naquele lugar. Por três meses, padeci tanto, devido ao rigoroso regime a que fui submetida, que não sei como suportei o tormento. Por fim, embora eu tenha resistido, minha compleição delicada se abalou, como direi.8 O tratamento iria começar no princípio do verão, mas fui para lá no início do inverno. Passei todo esse tempo na casa de minha irmã,9 que vivia numa aldeia pouco distante, para esperar o mês de abril, e para evitar idas e vindas.

7. Quando eu ia, aquele tio que morava, como eu disse, no caminho, me deu um livro; chamava-se Terceiro Abecedário e ensinava a oração de recolhimento.10 Nesse primeiro ano, eu havia lido bons livros (pois não quis mais usar outros, visto que já entendia o mal que me tinham causado), mas não sabia como agir na oração nem no recolhimento, e por isso aquele livro me deu grande alegria. Decidi seguir aquele caminho com todas as minhas forças.11 Naquela época, o Senhor já me tinha dado o dom das lágrimas, e, como eu gostava de ler, comecei a ter momentos de solidão, a confessar-me com freqüência e a seguir aquele caminho, tendo o referido livro por mestre. Outro mestre, isto é, algum confessor que me entendesse, busquei durante vinte anos, mas não o encontrei, o que me prejudicou e me fez retroceder muitas vezes, podendo ter me levado à ruína total. Se tivesse tido um confessor, eu teria sido ajudada em evitar as ocasiões de ofender a Deus.

Sua Majestade começou a me dar tantas graças desde o início que, ao fim do tempo que ali passei (aproximadamente nove meses de solidão; não vi­­via tão livre de ofender a Deus como o livro recomendava, mas passava por cima disso; parecia-me quase impossível evitar tudo; tinha cuidado para não co­meter pecados mortais, e quisera Deus que sempre o tivesse tido; dos ve­­niais, eu fazia pouco caso, e foi isso o que me destruiu)…12 me concedia tan­ta força para seguir esse caminho que me agraciava com a oração de quie­tude e até de união. Eu ainda não compreendia nenhuma dessas coisas, nem quanto mereciam ser prezadas; teria sido um grande bem compreendê-lo. É verdade que a oração de união durava muito pouco, talvez menos do que uma ave-maria. Causava, no entanto, efeitos tão grandes que eu, com me­­nos de vinte anos de idade,13 tinha a impressão de estar pairando acima do mun­do. Lembro que lastimava quem seguia as coisas do mundo, embora lícitas.

Eu buscava com todas as forças manter dentro de mim Jesus Cristo, nos­so bem e Senhor, sendo esse o meu modo de oração. Se me ocorria al­gum passo da Paixão, eu o representava no meu íntimo; mas a maior parte do tempo eu dedicava a ler bons livros, sendo essa toda a minha recrea­ção. Não recebi de Deus o dom de orar discursivamente nem de aproveitar a imaginação — é tão fraca a minha que, mesmo para pensar e representar para mim, como tentava fazer, a humanidade do Senhor, nunca consegui. É verdade que, não podendo usar o intelecto, quem persevera chega mais depressa à contemplação, mas com muitos sofrimentos e aflições. Se não há o em­prego da vontade, nem o amor tem com que se ocupar, a alma fica sem apoio e sem exercício; a solidão que sobrevém, acompanhada de aridez, é cau­sa de grande sofrimento e instala um enorme combate aos pensamentos.

8. Quem não consegue agir com o intelecto precisa de mais pureza de consciência do que quem o faz. De fato, quem medita sobre o que é o mundo, sobre o quanto deve a Deus, os muitos sofrimentos de Cristo, o pouco que rea­liza a seu serviço e o que o Senhor concede a quem o ama tem como de­fender-se dos pensamentos, das ocasiões e dos perigos. Porém, quem não pode tirar proveito disso se expõe a maior risco e precisa se ocupar muito da leitura, pois por si mesmo não consegue fazer boas reflexões; esse modo de pro­ceder na oração causa muito sofrimento a essas pessoas. Por mais curta que seja, a leitura tem utilidade para elas e é até necessária para que se re­colham; ela supre a oração mental que elas não conseguem fazer. Se o mes­tre que ensina insistir que a oração seja sem leitura (sendo a leitura uma grande ajuda para que essas pessoas se recolham), pessoas assim não conseguem perseverar muito tempo na oração. E, se lutarem, elas sentirão um en­­­fraquecimento, porque o combate é muito penoso.

9. Agora acho que a Providência Divina quis que eu não encontrasse quem me ensinasse. Eu não teria conseguido perseverar na oração nos dezoito anos em que me acometeram tamanhos sofrimentos e aridez, visto não po­der fazer oração discursiva, sem as leituras. Por todo esse tempo, eu não me atrevia a começar a orar sem livro, exceto quando acabava de comungar; minha alma temia tanto orar sem livro que era como se tivesse de enfrentar um exército. Com esse recurso, que era uma companhia ou escudo que amor­tecia os golpes dos muitos pensamentos, eu obtinha consolo. Porque a aridez não costumava vir quando eu tinha um livro; os pensamentos se recolhiam ca­rinhosamente, e o espírito se concentrava. Muitas vezes, o simples fato de ter o livro à mão bastava. Em algumas ocasiões, eu lia pouco e, em outras, mui­to, a depender da graça que o Senhor me dava.

Eu tinha a impressão, nesses primeiros anos de que falo, de que, com li­vros e solidão não corria o risco de perder tanto bem; e creio, com o favor de Deus, que o teria perdido se tivesse tido mestre ou alguma pessoa que desde o início me ensinasse a fugir dos perigos ou a evitá-los tão logo me vis­se enredada neles. E, se o demônio me atacasse abertamente na época, pen­­so que de nenhuma maneira me levaria a cometer um pecado grave. Mas ele foi tão sutil, e eu, tão imperfeita, que pouco aproveitei de todas as minhas de­terminações, embora aqueles dias em que servi a Deus, sofrendo as terríveis doenças que tive, com toda a grande paciência que Sua Majestade me deu, muito me tenham servido.

10. Muitas vezes pensei, espantada, na grande bondade de Deus, ficando minha alma maravilhada ao ver sua grande magnificência e misericór­dia. Ben­dito seja Ele por tudo, pois sempre vi com grande clareza que, mes­mo nesta vida, Ele não deixa de recompensar nenhum bom desejo. Por piores e mais imperfeitas que fossem as minhas obras, o Senhor as melhorava, aperfei­çoava e tornava meritórias, apressando-se a esconder minhas faltas e pecados. E, mais do que isso, Sua Majestade cegava e tirava a memória dos que ti­nham visto essas minhas faltas e pecados. O Senhor doura as culpas, faz com que res­plandeça uma virtude que Ele mesmo põe em mim, quase me maltratando para que eu a tenha.

11. Quero voltar à ordem que me deram e dizer que, se fosse contar com detalhes o modo como o Senhor se relacionava comigo nesses princípios, seria necessário um talento maior que o meu para mostrar o valor do que lhe devo, e para revelar minha grande ingratidão e maldade, pois esqueci tudo isso. Que Ele seja para sempre bendito, pelo tanto que me tem suportado. Amém.