terça-feira, 25 de junho de 2013

Quartas Moradas: Capítulos 3, 1-14

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Prólogo

A situação da qual procede a pessoa que ingressa nas 4M é a de quem conseguiu normalizar a vida de oração, superar a surdez das 1M, o tartamudeio das 2M, normalizar a oração de meditação, atravessar as securas e provas inesperadas, realizar a determinada determinação de não abandonar a oração e pôr a sua confiança em Deus.
- O ingresso nas moradas místicas não está marcado pela mudança de comportamento ético, mas por um novo tipo de relação de gratuidade amorosa da parte de Deus.
- A estrutura do homem na sua capa mais profunda transforma-se num manancial misterioso sob a iniciativa de Deus.
- O papel decisivo do homem é dado pela vontade e o amor. O homem começa a amar de forma nova, experimentando o amor de Deus que se derrama nele.


Estrutura: Capítulo 3.1-14. Oração de recolhimento e quietude.
1-7: Oração de recolhimento infuso e a conveniência ou não do “não pensar nada” (nn.4-7).
8: Oração de quietude, análise do entendimento e vontade nela.
9-14: Efeitos da oração de quietude e avisos.


A ordem lógica1 deveria ser:
Oração vocal, de meditação.
Oração de contentamentos ou recolhimento activo (4M 2, 1-5);
Oração de recolhimento infuso (4M 3, 1-7);
Oração de gostos ou quietude (4M 2, 2.6-10) e seus efeitos (4M 3, 9-14).
Oração de sono de potências. 



Quartas Moradas: Primeiro e Segundo capítulo

Transição para a etapa mística 

Capítulo 1
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Prólogo 
As Quartas Moradas (4M) são de transição entre a fase ascética (Moradas 1 a3) e a mística (Moradas 5 a 7). A pessoa das 4M é um contemplativo incipiente, uma mistura de adquirido e infuso (4M3, 14). Com experiências místicas iniciais, pontuais e de modo intermitente de oração de recolhimento infuso (c.3), uma vontade que acolhe os gostos divinos (oração de quietude da vontade, cap.2) Uma vida que cede a Deus o lugar de primazia. Uma vida de corte menos ascético e mais teologal (o amor posto nas obras e ajudado por Deus). A pessoa das 4M é representada por duas imagens bíblicas (o jornaleiro pago com a moeda do amor, e a esposa do Cântico dos Cânticos convidada ao idílio de amor).


Contexto histórico 
Teresa conta 39 anos quando ingressa nas 4M. Depois da leitura do livro das Confissões de Santo Agostinho e da sua conversão diante do Cristo muito chagado (Quaresma de 1554), tem as experiências narradas nas 4M (em forma breve e intermitente a experiência da representação de Cristo junto a si, um sentimento da presença certa de Deus (V 10, 1). Teresa experimenta uma nova vida interior. 

Estrutura 
4M 1, 1-14: Alvorada mística. 
1-3: Pede luz ao Espírito Santo para exprimir os dons sobrenaturais das 4M. 
4-6: Diferença entre contentamentos e gostos. 
7: A disposição para as 4M é o despertar o amor a Deus. 
8-14. Diferença entre pensamento e entendimento. Domínio da imaginação inquieta. 
4M 2, 1-10. Diferença entre imaginação e entendimento. Os gostos e maneira de alcançá-los. 
1. Os contentamentos espirituais. 
2-6. Gostos espirituais e o símbolo dos dois tanques. 
7. Dificuldades de Teresa para manter um discurso coerente. 
8. Exercício da potência da vontade nas consolações. 
9-10. Disposições para acolher os gostos espirituais. 

Pistas de leitura. Chaves de leitura 

Capítulo 1. Alvorada da etapa mística 

- Porque dá Teresa ao tema das «gostos de Deus» um lugar inicial na sua descrição das Quartas Moradas? 
- Que diferença há entre contentamentos e gostos em 4M 1, 4-6? 
- Como desperta a pessoa para o amor a Deus na transição às 4M 1, 7? 
- Que entende Teresa por «imaginação ou pensamento» e «entendimento» em 4M 1, 8-14? 
- Que conselhos dá Teresa perante a dificuldade de controlar uma imaginação desbordante em 4M 1, 9-14? 




Capítulo2 
Diferença entre imaginação-entendimento 
A disposição para a mística 

- Qual é a relação que Teresa estabelece entre gostos espirituais e os dois tanques de água em 4M 2, 2-6? 
- Porque tem Teresa algumas dúvidas em relação à coerência da sua descrição dos gostos espirituais em 4M 2, 7? 
- Qual é a faculdade humana implicada nos gostos espirituais e de que maneira, segundo 4M 2, 8? 
- Como devemos dispor-nos para alcançar este tipo de oração, de água ou gostos espirituais em 4M 2, 9-10? 

Para reflectir, rever a vida, interceder, agradecer, contemplar… 

- Achas que são possíveis experiências de “ contentamentos espirituais” misturados com um pouco de aperto no coração? 
- Já tiveste experiência de algum regalo de Deus que te tenha feito compreender que “pouco aproveita o esforço humano” quando quer qualquer coisa? 
- Já tiveste alguma vez o desejo de poder estar “num ser” nas coisas de Deus, sem estares com as tuas faculdades humanas divididas? 
- Conheces a experiência do gosto interior que deixa o coração dilatado? Ou a experiência da paz interior profunda, embora no exterior haja problemas, pobreza ou ameaças? 
- O “amar muito” dispõe para a entrada na etapa mística. Poderias mencionar algum exercício ou exercícios que possam despertar o amor a Deus, para que a centelhazinha da vontade se acenda cada vez mais? 
- A humildade é outra atitude que dispõe para a mística. Poderias enumerar acções que possam ajudar a crescer na humildade verdadeira? 
- Qual dos conselhos de Teresa te pareceu mais esclarecedor em relação ao domínio adequado do pensamento desbordante?
- A respeito do tanque que simboliza a oração de quietude: - a que corresponde a água, o tanque, o manancial, a nascente ou a profundidade da alma, a enchente do tanque? E que valor dás a esta descrição simbólica da oração de quietude nas 4M? 

Selecção de textos: 
1. Em que consiste o amor a Deus em 4M 1,7: 

“O que mais vos despertar ao amor, isso deveis fazer. Talvez não saibamos o que é amar, e não me espantarei muito; porque não está no maior gosto, mas sim na maior determinação de desejar contentar a Deus em tudo e procurar, tanto quanto pudermos, não O ofender e rogar-Lhe que vá por diante a honra e glória de Seu Filho e o aumento da Igreja Católica. Estes são os sinais do amor…” (4M 1,7). 

2.O outro tanque: 
“Está feita na mesma nascente da água e vai-se enchendo sem nenhum ruído- E se o manancial é caudaloso como este de que falamos, depois de cheio o tanque, segue um grande arroio; não é preciso artifício; nem mesmo se acaba o edifício dos aquedutos, que sempre está correndo dali água… 
A esta outra fonte, vem a água da sua mesma nascente, que é Deus” (4M 2, 3-4). 

3.A acção de Deus em 4M: água e fogo na vontade humana 
“Sente uma fragância interior – digamos agora – como se naquela profundidade interior estivesse um braseiro onde se lançassem olorosos perfumes; nem se vê o lume nem onde está; mas o calor e o fumo perfumado penetram toda a alma e até bastantes vezes – como já disse – participa o corpo” (4M, 2,6).