sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Fundações: Capítulo 3


ImageSobre a fundação de São José em Medina del Campo possuímos dois relatos directos e complementares: o de Teresa, nas Fundações, c.3, e o do seu colaborador Julião de Ávila

Pistas de leitura

Estamos no verão de 1567, data da primeira saída de Teresa como fundadora. Esta viagem de Ávila a Medina marca um novo rumo e um novo estilo de vida.
É aqui, em Medina, onde nasce a ideia de completar a sua obra de fundadora com o ramo dos Descalços, e onde ganha para a obra o primeiro grande seguidor, são João da Cruz: «Pouco depois, aconteceu vir por aqui um padre…» (3, 17)

Para reflectir, rever a vida, interceder, agradecer, contemplar…

1. Vemos que Teresa começa no meio de muitas dificuldades, mas com grande ajuda: «resolvi valer-me do auxílio dos Padres da Companhia…» (3, 1); «O capelão do mosteiro onde eu estava… homem de Deus e de oração… meu grande auxiliar…» (3, 2); «Ao sair de Ávila escrevi a um padre da nossa Ordem…» (3, 3); «Ao chegarmos à pousada, soube que estava no lugar um frade…» (3, 5); «Oito dias depois, vendo um mercador a nossa necessidade…», «e uma senhora que morava ao lado da casa…», «outras pessoas nos davam muito…» (3, 14).
- Recordamos todas as pessoas que tornaram e tornam possíveis os nossos projectos pessoais e comuniários?
A fundação de Medina começa com bem pouca coisa: «Uma vez alcançada a licença, não tinha casa…» (3,2) e «Chegando a casa, entrámos…» (3, 8-9). Teresa não se acobarda perante a pobreza de meios: «Oh! Valha-me Deus! Quando Vós, Senhor, quereis dar ânimo…» (3, 4) consciente de que é o Senhor quem dispõe de tudo. Mas notamos uma mudança de atitude quando as dificuldades e murmurações começam a crescer: «Até aqui, estava eu contentíssima…» (3, 10-11).
Fixemo-nos que diz: «Só tinha presente a minha baixeza e limitado poder»
- Parece-nos normal este contraste de sentimentos?
- Se temos experiência disso, como o encaramos?

2. Já desde o princípio das suas fundações vemos a entranhável solicitude pelas suas irmãs: «E ainda se estivesse só!» (3, 11); «com toda esta fadiga» (3, 12). Teresa sofre quando vê como as suas decisões afectam as irmãs, demonstrando assim um grande amor, que tem sempre em conta os outros.
- Como procuramos aliviar as dificuldades dos que nos rodeiam?

3. Muito importante é o episódio eucarístico, que lhe causa grande sofrimento : «Quando vi Sua Majestade posto assim na rua, em tempo tão perigoso…» (3, 10). Ela tinha a convicção de que a nova casa religiosa só ficava fundada quando se celebrava nela a primeira missa e o Santíssimo Sacramento ficava instalado na capela .
– Quais são as nossas convicções a este respeito?
- Podemos orar perante a comovedora reflexão de Teresa no meio deste contexto: «até lhes fazia devoção ver Nosso Senhor outra vez num portal. E Sua Majestade, como quem não se cansa de Se humilhar por nós, parecia não querer sair de lá» (3, 13)

4. Vai terminando o relato tratando da fundação para os frades e o encontro com frei João da Cruz (3, 16-17). Surpreende a rapidez com que se desenrola um sucesso que será de vital importância para a vocação de João e tão providencial para o Carmelo Teresiano e a Igreja toda. Teresa descobre em João a encarnação das suas ideias, e João descobre-se a si mesmo, descobre a sua vocação e uma mulher que vai proporcionar as possibilidades reais aos seus sonhos e desejos .
- Como avaliamos o encontro de Teresa e João?
- Temos experiência de encontros tão decisivos na nossa vida?

5. Termina o relato agradecida pelo crédito que as monjas iam ganhando entre o povo (3, 18) e é vital a razão que dá desse facto: «cada uma só cuidava de como servir sempre mais a Nosso Senhor», e a experiência que Deus nos comunica de «que mais não espera senão ser amado para amar».
Permaneçamos na contemplação desta cena final, pedindo ao Senhor que nos faça participantes dela.

Ficheiro

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Fundações: Prólogo e capítulos 1-2 *Pistas de leitura


ImageVamos descobrir ao longo do “Livro das Fundações” como Teresa é fundadora do ponto de vista histórico, com a erecção de novos Carmelos e também do ponto de vista teológico: Teresa está dotada de um carisma especial que lhe confere uma missão dentro da Igreja; não funda por iniciativa própria, Teresa é uma enviada (V 32, 10-12)1

Pistas de leitura

Encontramo-nos em Salamanca, onze anos depois da fundação de São José; o
mestre Ripalda, tendo visto o relato da primeira fundação (V 32-36), pede-lhe que
escreva o das fundações seguintes (F Prólogo 2)
Parecendo-lhe a ela impossível semelhante tarefa diz-lhe o Senhor: “Filha, a obediência dá força” (Prólogo 2)
Assim, começa a escrever com uma motivação bem clara: “para que nosso Senhor seja
louvado” (Prólogo 3)

Para reflectir, rever a vida, interceder, agradecer, contemplar…

1. Teresa está consciente do alcance de uma vida entregada por completo a Deus: muitas vezes me parecia que era para algum grande fim as riquezas que o Senhor punha nelas; ao mesmo tempo vão crescendo nela os grandes desejos: dado que meus desejos… (1,6)
Estamos conscientes que nossa vida em Deus abarca muito além da nossa vida pessoal?
Desejamos que assim seja?
Oremos com Romanos 14, 7-9 “Nenhum de nós vive para si mesmo e nenhum morre para si mesmo. 8Se vivemos, é para o Senhor que vivemos; e se morremos, é para o Senhor que morremos. Ou seja, quer vivamos quer morramos, é ao Senhor que pertencemos. 9Pois foi para isto que Cristo morreu e voltou à vida: para ser Senhor tanto dos mortos como dos vivos”.

2. O encontro com frei Alonso Maldonado faz crescer nela a vocação missionária:
Clamava a nosso Senhor, suplicando-lhe que me desse meios de ganhar uma só alma… (1,7)
Estamos atentos à realidade do sofrimento do nosso mundo? Como oramos perante essa realidade?
Teresa ouve do Senhor: Espera um pouco filha, e verás grandes coisas (1,8)
Sentimo-nos animados pelo Senhor?

3. É no meio das dificuldades que Teresa faz experiência da providência de
Dios; não sabe como pode ser que se cumpram as palavras do Senhor quando ao fim de
algum tempo sucede o seguinte (1,8): Chega o padre geral a Ávila e Teresa diz: “Mas
como quando Deus quer não há impossíveis…” (2,1) e quando lhe pede licença para fundar os frades escreve: “Mas vendo feita a parte principal, tive esperança de que o Senhor faria o resto.” (2,5)
Com esta convicção e muito animada continua: “O ânimo não desfalecia…” (2,6)
Recordemos a acção de Deus nas nossas dificuldades, renovando a
confiança n’Ele e oremos com Teresa: “¡Oh grandeza de Deus!…” (1,7)

4. É precioso ver já no inicio do capítulo 1º o espírito evangélico que se vive na
comunidade: “em nada mais pensavam senão em servir e louvar a nosso Senhor… apoiado no amor de Deus e numa grande confiança n’Ele: “… até que Deus mandava o bastante para todas.” (1, 2)
Vemos o amor pela pobreza –um dos pilares do estilo teresiano- e os frutos da mesma: desprendimento, caridade, abandono em Deus, contentamento.
Parece-nos excessiva para os nossos dias?
Que valor teológico damos à pobreza? Já alguma vez a experimentamos?

5. Outro pilar do espírito teresiano é o amor pela solidão: “a sua consolação era a sua
solidão…” (1, 6) onde se nutre a vida de oração expressa no amor às irmãs e o sentido apostólico da mesma.
É a configuração com Cristo a sós com ele segundo o espírito evangélico que Teresa
quer para as suas comunidades e que dá como exemplo para os que queiram seguir o
ideal vivido em São José.
É a nossa solidão encontro com Jesus?
Experimentamo-la realmente como fonte de vida?
Dedicamos-lhe tempo e espaço ou as ocupações absorvem-nos?
Que dificuldades/medos, nos impedem de viver a solidão?

6. Teresa quer também, nesta nova forma de seguimento de Cristo, ensinar-nos
a obediência; encontramos 36 vezes este termo nas Fundações.
Encontramo-nos sem embargo, com os seguintes exemplos: “Na virtude da
obediência…” (1, 3) e “Ocorria-me encomendar…” (1, 4) que certamente nos
chocarão hoje. Como interpretá-los?2

7. Finalmente, poderíamos sublinhar as frases em que Teresa nos mostra como está
vivendo a sua relação com Deus nestes momentos p. ex. “…mostrando-me muito
amor, como querendo consolar-me…” (1, 8)



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1 100 FICHAS SOBRE TERESA DE JESÚS, Tomás Álvarez, Monte Carmelo 2007, p.74.
Ficha I.- livro DE as FUNDAÇÕES – II

2DICCIONARIO DE SANTA TERESA, Tomás Álvarez, Monte Carmelo, Segunda edición, 2006
p.464; “Certamente a teologia da obediência de Santa T não fica reflectida neste capítulo.
Representa apenas um ponto de partida. Se trata de factos vividos no momento inicial, quando a Santa se
está treinando digamos, no governo e começando além disso um novo estilo de vida. Acontece
numaaltura em que está sob a direcção do P. Baltasar Alvarez, jesuíta……Entrega-lhe um ramalhete
de conselhos espirituais, entre elos, A 25, procedentes dos mestres de noviços da Companhia. Trata-se de avisos pseudo-teresianos, que certamente não reflectem a ascética teresiana…” (cf T. ALVAREZ,
“Semana de Teresianismo”, Burgos 1973, f 115-116).