segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Primeiras Moradas: Capítulos 1-2


Primeiras Moradas: Capítulos 1-2




Desde o cume da sua oração, Teresa oferece-nos a sua visão de Deus e do homem com o fim de centrar a nossa vida espiritual na relação com Deus, a que Teresa chama oração, isto é, amizade.
Partindo do símbolo do Castelo, é-nos dito que cada um de nós é como um castelo, no interior do qual está a alma, que a porta para entrar é a oração, ensinando-nos a dar os primeiros passos. 


Pistas de leitura 

Teresa convida-nos a considerar a nossa alma como «um castelo todo ele de um diamante ou mui claro cristal», onde há muitos aposentos ou moradas e no centro de todas estas tem a mais principal onde se passam as coisas mais secretas entre Deus e alma (1,1.3)
Anima-nos a não nos cansarmos em querer compreender a formosura deste castelo, a entender e a saber quem somos, os bens que possuímos e quem nos habita (1,2) Quer que compreendamos as mercês de Deus, sabendo que é possível comunicarmos com Ele, Bondade e Misericórdia (1, 3). 
Ganhar consciência de que esta dignidade e formosura nos vem de sermos feitos à imagem do nosso Criador (1, 1).
Teresa diz que, para poder entrar, a porta é a oração, advertindo com Quem falamos e o que pedimos (1, 7), avisando-nos que «vai muito de estar a estar». 

a) Há almas que se ficam pela cerca e que não se lhes dá de entrar (1, 5), tão doentes e dispostas a permanecer em coisas exteriores que não há remédio nem parece que possam entrar dentro de si (1,6)!

b) Outras entram no castelo e, embora estejam muito metidas no mundo, têm bons desejos… encomendam-se a Nosso Senhor e consideram quem são… cheias de mil negócios… e o coração se lhes vai para onde está o seu tesouro. Propõem algumas vezes, para consigo mesmas, desocupar-se… (1, 8)
As primeiras (a), sendo de natureza tão ricas e podendo ter a sua conversação com Deus, por não voltarem a cabeça para si mesmas, não têm remédio (1, 6); as segundas (b), embora entrem nas primeiras dependências, entram com tantas sevandijas, que não lhes deixam ver a formosura do castelo nem sossegar (1, 8). 
No 2º capítulo, Teresa, continua a pôr-nos perante o mistério do mal (2, 1), sublinhando a desordem que produz no nosso interior ao frustrar a nossa relação com Deus, embora Ele continue a habitar-nos (1, 3).
Teresa quer evitar que percamos o sentido do pecado, que nos faz perder o sentido da realidade, podendo errar o caminho e não chegarmos ao mais profundo do nosso encontro com Deus. Agora faz-nos voltar ao castelo advertindo-nos que:
«as coisas da alma devem-se considerar com amplidão, largueza e grandeza, e nisto não há demasia, pois tem maior capacidade do que nós podemos considerar, e a todas as partes dela se comunica este Sol…(2,8). 

Continua com a importância do autoconhecimento e como este se consegue (2, 9), ensinando-nos à continuação onde se encontra a verdadeira humildade (2, 11). 
Fazendo-nos ver onde nos encontramos no princípio deste caminho, faz-nos conscientes de estarmos numa situação de luta e pobreza pessoal, aconselhando-nos como poder avançar para as segundas moradas (2,14). 
E termina lembrando-nos em que consiste a verdadeira perfeição. «amor de Deus e do próximo» (2, 7). 


Para reflectir, rever a vida, interceder, agradecer, contemplar…

1. Relendo e saboreando como Teresa descreve a nossa realidade interior desde a sua visão positiva: - Acreditamos nisto realmente? Sabemo-nos verdadeiramente habitados pelo próprio Deus?

2.Avançamos no caminho do conhecimento próprio ou já sabemos tudo por nós próprios? 

3. Coloquemo-nos em silêncio perante o olhar de Deus: experimentamos como Ele nos descobre a nossa verdade?
Agradeçamos sinceramente o seu convite a adentrarmo-nos cada vez mais ao seu encontro. 

4. Sejamos conscientes da nossa fraqueza e, sem nos desanimarmos, peçamos-Lhe que nos ajude a nos libertarmos das nossas ataduras.

5. Teresa recorda-nos que todos estamos chamados à comunhão com Deus e que Ele nos trata cada um livremente.
Oremos para que toda a pessoa possa viver esta comunhão e alegremo-nos pelos que têm a graça de gozá-la. 

6. Entendendo que a perfeição verdadeira é amor de Deus e dos nossos irmãos, contemplemos Cristo para aprendermos a conhecer o verdadeiro Amor 


BICHO DA SEDA


bicho da seda

Em pleno coração do livro do castelo interior e dentro das quintas moradas, Santa Teresa descreve a transformação que experimenta a pessoa na oração, com um símbolo muito belo: o bicho da seda, o qual se fecha no seu casulo interior, e aí “com as suas boquitas vão fiando a seda, e fazendo uns casulos muito apertados onde se fecham… E morre este bicho, que é grande e feio, e sai do mesmo casulo uma borboleta branca muito bonita”.


Esta imagem do bicho da seda serve para que Teresa expresse melhor a mudança e a transformação da pessoa, como mistério pascal de morte e ressurreição.
No desenvolvimento desta transformação, como no processo em que o bicho da seda se metamorfoseia em borboleta, é muito importante a ação do Espírito Santo que vai ajudando nessa disposição e no nosso trabalho para não ficarmos pelo meio do caminho.

Podemos agora visualizar os diferentes elementos contidos no processo desta imagem: 
Semente: São uns bagos, como grãos de pimenta, que se convertem em larvas.
A folha da amoreira: É o primeiro espaço onde se desenvolvem, é o alimento.
Ambiente: Calor, elemento que necessita a semente para viver,  é a graça do Espírito Santo. 

Bicho da seda: É cada um de nós a partir  da perspectiva da transformação profunda. 
Tecer o casulo ou a “casa”: é um convite para construir a própria habitação, a viver a interioridade. 
Fabricar a seda, lavrar a seda: Cristo é a morada. Vive dentro de cada um. A seda é o resultado das maravilhas que Deus faz através de nós.

Trabalhos: São todos os esforços e ações que temos que fazer para corresponder à graça, para não vivermos superficialmente.

A borboleta: equivale ao “homem novo”, é o fruto da ação transformadora de Deus.
É graça, libertação.

Este símbolo é a síntese da história de todo o homem nascido para ter asas e elevar-se.