sexta-feira, 25 de março de 2011

Ficha de Trabalho: Caminho 16-18



ImageCaminho 16-18: Requisitos para ser contemplativas: Humildade III.

Pistas de leitura.
Estes capítulos são a anotação final ao bloco das virtudes e à humildade (cap. 4-18)1 e, não obstante, começam tratando da excepção à regra que justifica esse bloco: “como é possível algumas vezes elevar Deus uma alma distraída [pouco virtuosa] à perfeita contemplação e a causa disso” (cap. 16 título; cf. p. ej. 4,3; 16,1-3); por tanto, é preciso averiguar qual é essa causa e como tem que responder a pessoa agraciada.

Finalmente, os cap. 17 e 18 recomendam um último e surpreendente exercício de humildade: desapego até da mesma contemplação! Em que sentido? Implica isto que só orem as que se sintam contemplativas? Que outros exercícios leva anexos este desapego recomendado?


Para reflectir, rever a vida, interceder, agradecer, contemplar…
1. “Algumas vezes” (16,2), inclusive “com muitos” (16,5), Deus inverte a ordem habitual (virtudes  contemplação) e “as prova para ver se com aquele favor elas se querem dispor para O gozar muitas vezes” (16,8). Evidentemente, a este tipo de excepção à regra pertence o caso da mesma santa (cf. V 38,1; Ficha cap. 4-5, questão 3). Conheces outras experiências assim? Recorda, agradece…

2. Como responder a uma graça deste tipo? Fazendo os exercícios de humildade já vistos: não desculpar-se (16,6), sofrer “uma pontinha de ser tido em menos” (16,11), ou seja, pôr os olhos n’Ele (16,7). A maior parte destas repetições têm tom exclamativo e orante: Teresa não acaba de entrar directamente no tema da oração (cf. nota 1) e, contudo, começa a custar-lhe conter-se; cf. 16,3.4.6.7 e vê o contraste com a tua forma de orar; és assim espontâneo, autêntico, cristológi-co…?

3. Outro parágrafo para nos determos e pensar, rever, orar… pois põe bem de manifesto que a humildade teresiana não tem nada a ver com a pusilanimidade, muito pelo contrário: “Deus nos livre, irmãs, quando fizermos alguma coisa imperfeita dizer: não somos anjos, não somos santas. Olhai que, embora o não sejamos, é grande bem pensar que, se nos esforçamos, o poderemos ser, dando-nos Deus a mão; e não tenhais medo que falhe por Ele, se não falharmos nós. E porque não viemos aqui para outra coisa, mãos à obra, como dizem: não vejamos coisa em que se sirva mais o Senhor, que não presumamos sair bem dela com o seu favor. Esta presunção quereria eu nesta casa, porque faz sempre crescer a humildade: ter uma santa ousadia, pois Deus ajuda os fortes e não faz acepção de pessoas” (16,12).

4. Deus não só mostra o seu senhorio dando a graça da contemplação a quem não a procurou, mas também não a dando a quem o fez e cultivou bem as virtudes; por isso, a santa Madre pede para exercitar a humildade inclusive acerca das próprias expectativas: “De como nem todas as almas são para contemplação e como algumas chegam a ela tarde” (cap. 17 título). A primeira coisa a fazer é não deixar a oração com a desculpa de que em tudo podemos encontrar o Senhor ou que tudo é oração (cf. 17,6 e 18,3-4). Pensa, revê, ora…

5. Por tanto, é preciso perseverar na oração, embora seja nas suas formas mais ‘pobres’ e simples (17,3; 18,4): revê, agradece…

6. É preciso também servir com alegria (17,1.5-6); consolar-se porque a falta de contemplação não impede a perfeição (17,2.4.6), mais ainda, é caminho muito meritório (17,4-7) e, enfim, se se persevera, pode acontecer, embora pareça tarde (17,2.7; 18,4); evidente, não murmurar das con-templativas (17,5; 18,5) e, decididamente, ser fértil nas virtudes tão encarecidas nestes capítulos, em vez de procurar consolos espirituais (18,9). De modo que, atender a cada coisa, rever, orar…

7. Se Deus actua assim (cf. questão 4), parece que não há métodos, nem técnicas de oração que possam garantir que se alcançará a contemplação: Concordas?, porquê? Achas que há métodos que se julga serem infalíveis?...

8. E que dizer destas aparentes contradições: é “algumas vezes” (16,2) ou “com muitos” (16,5)? ”Dá a cada um o seu ofício” (18,3) ou “não deixará de dar se é de veras o desprendimento e humildade” (17,7)?

9. Uma ideia para se ter bem em conta: “Quanto maiores são os trabalhos dos contemplativos” (cap. 18 título); de facto, contemplação igual a “trabalho disfarçado com gostos” (18,4).

10. Concluindo, mais virtudes, muito, muito especialmente obediência (também para os que não estão obrigados por um voto religioso!: 18,8), que gostos espirituais (18,7-9): revê, ora…

segunda-feira, 7 de março de 2011

Rezar Bem – Rezar mal Doze avisos de Madre Teresa de Jesus

Perguntar a Santa Teresa como ela distingue “rezar bem” de “rezar mal” é fazê-la recordar sua própria experiência. Um momento dolorido de sua vida de oração. Essa pergunta perseguiu-a anos e anos. Como uma questão decisiva, encravada nas entranhas de sua vida cristã.

É certo que, em seu caso, interferiram vários fatores agravantes. De imediato, a oração cresceu de forma envolvente e admirável. Tão alarmante que a obrigou a fazer-se a pergunta em termos decisivos: É o Espírito de Deus que reza em mim ou é outro espírito.... ou são certos recursos obscuros de fundo psicológico...? Outro agravante proveio do medo que lhe inculcaram seus conselheiros teólogos. Os homens de sua época, em surdina, tinham sempre o medo da Inquisição. E não apenas o injetaram em Teresa, mas induziram-na a outro tipo de medo, o de precisar abandonar a oração após vinte anos de fidelidade ao Senhor (Vida 23,12). Um medo — disse ela — que teria sido suficiente para fazê-la perder o juízo (Vida 28,18). Mas que, afortunadamente para nós, obrigou-a a pegar a caneta e repensar seu caso sobre o papel, para analisá-lo e dizer-nos em que consiste rezar bem e rezar mal.

Uma de suas primeiras e fortíssimas reações foi esta: Medos, não! Dito e redito aos semiteólogos e semiletrados de todos os tempos: “Não façam nenhum caso dos medos que lhes inculcarem nem dos perigos que lhes pintarem...” (C 21, 5).

Ouçamo-la, agora. Respigando nos montes de “avisos e conselhos que Madre Teresa dá às suas irmãs e filhas”, vamos recolher apenas doze conselhos. Começando pelo mais elementar:

1. Orar bem é rezar bem.

“Eu sempre porei a oração mental junto com a vocal. Não estejas falando com Deus e pensando em outras coisas. Quando digo creio, parece-me que a razão entende e sabe o que creio. E quando digo Pai-nosso, amor será entender quem é o Pai-nosso e quem é o mestre que nos ensina esta Oração” (C. 22,3.8; 24,2). Não se pode falar com Deus e com o mundo, que não é outra coisa que estar rezando e, por outro lado, escutando o que estão falando ou, sem mais, pensar no que se lhes oferece...” (C. 24, 4).

2. Rezar bem é... pensar bem?

Rezar... não é filosofar, nem apenas meditar. A coisa não está em pensar muito mas em amar muito. Assim, façam o que mais os despertar a amar” (M. 3,4;1 ,7). “Nem todas as imaginações são, naturalmente, hábeis para pensar, mas todas as almas o são para amar...” Claro, entendo bem de “amar”: porque “o aproveitamento da alma (na oração) não está em pensar muito, mas em amar muito. Como se adquirirá esse amor? Determinando-se a amar e padecer e fazendo-o..sempre que a ocasião se apresentar” (F. 5, 2-3).

3. Oração boa é...

A que se funda na verdade e na escuta da Palavra bíblica. Porque... “espírito que não esteja fundado na verdade, eu o quereria mesmo sem oração. Tendo chegado às verdades da Sagrada Escritura, fazemos o que devemos: Deus nos livre de devoções tolas” (V 13,16). “Eu sempre tive afeição pelas palavras dos Evangelhos, que me levaram sempre a maior recolhimento do que livros muito bem redigidos...” (C. 21. 4).

4. Não há oração cristã..., sem Cristo nela.

Para o orante, Ele é mestre e Senhor... “Deste Senhor nosso, nos vêm todos os bens. Ele nos ensinará; o melhor modelo é contemplar sua vida. O que podemos querer mais que tal amigo ao lado? Vi claramente que Ele é a porta por onde entrar, se quisermos que Deus nos revele grandes segredos” (Vida, 22. 6-7). “Eu quereria ter sempre diante de mim seu retrato ou imagem, já que não posso trazê-lo em minha alma tão esculpido quanto eu gostaria” (22, 4). É importante “acostumar-se a enamorar-se muito de sua sagrada humanidade, trazê-lo sempre consigo e falar com Ele..., sem procurar orações já prontas, mas palavras conforme seus desejos e necessidades” (12, 2). “Põe os olhos no Crucificado e tudo parecerá pouco” (M. 7, 4, 8).

5. Não deformar o rosto de Deus

Deus é amor. Na oração é amigo presente. “Faz tudo como queremos... Não é nada frágil o meu Deus, não olha para ninharias... Para corresponder é tão minucioso, que não devemos ter medo de que ele deixe de recompensar um simples alçar de olhos acompanhado da lembrança Dele” (C 23, 3). “Palavras e tratamentos rebuscados para Ele nada significam. Mesmo que não saibamos falar com Ele, não deixa de ouvir-nos ou de permitir que nos aproximemos dele... Este Rei gosta mais de um pastorzinho humilde e rude que vê que se mais soubesse mais diria, que dos muitos sábios e letrados por mais elegantes que sejam os raciocínios que fazem se não os fazem com humildade” (C. 22, 4).

6. A oração não é coisa cômoda.

Não existe sem cruz. “Prazer e oração não se harmonizam” — não são compatíveis (C. 4. 2). “É um disparate pensar que Ele admite à sua amizade estreita pessoas que só buscam o prazer sem trabalho” (C 18,2). Mesmo as altas formas de oração, as dos orantes contemplativos, “tenho como certo que são para fortalecer nossa fraqueza. para poder imitar Custo em seu sofrimento” (M. 7. 4,4). Quem vai á oração pelo gostinho da oração mal encontrará o caminho da oração: “a oração não é para gozar, mas para dar forças para servir” (idem 12).

7. Não há oração boa que não comprometa a vida.

“Obras, irmãs, o Senhor quer obras! E que, se vemos uma enferma a quem podemos aliviar, nos compadeçamos dela e. se tem alguma dor, doa também a nós, e se fazemos jejum que seja para que ela coma... Quando vejo muitas pessoas preocupadíssimas em entender a própria oração e cabisbaixas quando estão rezando, que não ousam mexer-se ou menear a cabeça para que não lhes fuja o pouquinho de gosto e devoção que tiveram, dou-me conta do pouco que entendem do caminho da oração... E pensam que tudo está ali! Não, irmãs, não: o Senhor quer obras” (M. 5. 3, 11).

A um amigo íntimo ela fazia a seguinte distinção entre rezar bem e rezar mal, entre a oração pior e melhor: “A oração mais bem aceita e acertada deixa melhores efeitos...; chamo “efeitos”, confirmados por obras” (carta a Graciano. de 23 de outubro de 1576). Entendes, não é? Os “efeitos” da oração são as obras e virtudes da vida cristã.

8. A boa oração não é flor do invernadouro,

nem apenas da capela. Seria difícil suportar que apenas em lugares afastados se pudesse rezar. O verdadeiro amante ama em qualquer lugar e se recorda sempre do amado... (F 5,16). No lugar em que vives, na rua, no trabalho... aí se há de mostrar o amor, não nos esconderijos. mas nas ocasiões propicias. E se for na cozinha, entenda que o Senhor está entre as panelas, ajudando-nos interior e exteriormente (F. 5, 8.15).

9. Obras... e coerência de vida com o que rezas

“pois se não procuramos as virtudes e não nos exercitamos nelas, permanecemos sempre anões (na oração)”. (M. 7,4.9). Por isso, se te interrogas sobre rezar bem ou rezar mal, examina-te no amar aos outros, na pobreza com que vives e na humildade que tens. Esta é a verdadeira prova da autenticidade da oração: que as obras estejam de acordo com as palavras, e que aquilo que não puderes pôr junto o faças pouco a pouco: e que vás dobrando tua vontade se queres que a tua oração seja proveitosa (M. 7, 4, 7).

10. Na oração não limites teus desejos...

Não há oração cristã que produza pessimismo. Ela não existe sem aumento da esperança. O orante é pessoa de grande confiança. “Convém-lhe não limitar os desejos... Deus é amigo de ânimos corajosos. Não vi nenhum destes ficar por baixo neste caminho. Nem vi nenhuma alma covarde que caminhe em muitos anos o que estas caminham em poucos. Espanta-me muito como este caminho de oração dá ânimo para grandes coisas... Eu, nisto de desejos, sempre os tive grandes” (V 13, 2-6). A oração é um elevador dos ideais: “importa muito, aos princípios da oração, não desanimar os pensamentos. Porque “ajuda muito ter altos pensamentos (grandes ideais e projetos) para que nos esforcemos a que o sejam também as obras” (V 13,7; C 4,1).

11. Não confies em tua oração se...!

Radicalismo evangélico. A oração cura o coração. Limpa-o de ressentimentos e rancores. E de outras ervas daninhas que envenenam a convivência fraterna. “Não confies muito na oração de uma pessoa que não sai da oração determinada a perdoar qualquer injúria — não as ninharias que chamamos de injúrias — por mais graves que sejam” (C 36,8).

12. A prova dos nove?

A humildade! Não há oração sem humildade. Já disse Jesus no Evangelho. Porém, que seja verdadeira humildade. “Ser humilde é andar na verdade...” “diante de Deus e das pessoas, especialmente não querendo que nos tenham por melhores que somos e, em nossas obras, procuremos dar a Deus o que é seu, e a nós o que é nosso ... Procuremos em tudo a verdade...” (M 6.10, 6-7). ‘Tenho por maior graça do Senhor um dia de conhecimento de si mesmo, ainda que nos tenha custado muitas aflições e trabalho, que muitos dias de oração” (F. 5,16). Porque isto do conhecimento de si nunca se há de deixar nem há alma tão grande no caminho da oração que não deva muitas vezes voltar a ser criança.., e nunca se esquecer disso (V 13,15).

Por fim, para tomar o pulso da oração. Teresa recomendaria o tipo de relações que. a partir dela, tens com Deus e com os outros. A Ele podes dizer de verdade “Pai-nosso” e “faça-se a tua vontade?” Porém, atenção, pois “de tal maneira podemos dizer uma vez esta oração que como Ele entenda que ainda somos dissimulados, que a não ser que façamos o que dizemos, nos deixe ricos! Como é muito amigo, tratemos de verdade com Ele. Tratando-o com simplicidade e clareza... sempre dá mais do que lhe pedimos” (C 37,4). O mesmo deverá ocorrer com Cristo. És capaz de dizer-lhe: “Que bom amigo és, Senhor ou: “Caminhemos juntos, Senhor: por onde tu fores tenho de ir..”? Em relação aos outros talvez o melhor parâmetro de saúde boa em tua oração seja a alegria de que se cresce diante do bem, o que alcançam e a boa sorte deles. E a bem-aventurança de que os outros sejam melhores, “e se vires louvarem muito alguém. te alegres muito mais que se louvassem a ti... A alegria de compreender o bem dos outros é grande coisa, e quando virmos alguma falta neles, sentir como se fosse própria e encobri-la. (M. 5, 3.11).


Enviado por Frei José Claudio, ocd