quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

capitulo 8

Fala do grande bem que obteve do fato de não se afastar por inteiro da oração para não perder a alma e do grande auxílio que isso é para se recuperar o que se perdeu.

Defende essa prática por parte de todos. Diz que são grandes os ganhos dela decorrentes e que, mesmo que a deixem, é muito bom fruir por algum tempo de tão grande bem.

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1. Houve uma causa para que eu insistisse tanto em relatar essa época da minha vida. Sei bem que não agrada a ninguém ver coisa tão ruim, e por cer to eu gostaria que os que lessem isto me detestassem ao ver uma alma tão teimosa e ingrata para com quem tantas graças lhe tem dado. Gostaria de ter permissão para falar das muitas vezes que, nessa época, falhei diante de Deus, por não1 me ter apoiado na forte coluna da oração.

2. Singrei esse mar tempestuoso durante quase vinte anos, caindo e levan tan do — levantando-me mal, pois voltava a cair. Era tão pouca a minha per feição que quase não me importava muito com os pecados veniais, e, em bora temendo os mortais, nem por isso me afastava dos perigos. Trata-se de uma das vidas mais penosas que, a meu ver, se pode imaginar: eu não me rejubilava em Deus nem me alegrava no mundo. Nos contentamentos mundanos, era atormentada pela lembrança do que devia a Deus; quando estava com Ele, era perturbada pelos contentamentos do mundo. É tão dura essa batalha que nem sei como suportaria um mês, quanto mais tantos anos.

Porém, vejo claramente a grande misericórdia do Senhor ao me dar ânimo para orar enquanto eu tratava com o mundo. Digo ânimo, porque não creio que haja na terra algo que exija mais coragem do que trair o rei, sabendo que ele o sabe, sem conseguir sair de sua presença. Naturalmente, todos estão sempre diante de Deus; mas, para quem trata da oração, isso ocorre em outro plano; enquanto estes percebem que o Senhor os olha, os outros conseguem às vezes passar muitos dias sem nenhuma lembrança de que Deus os vê.

3. É verdade que, nesses anos, houve muitos meses e, talvez, anos em que eu não ofendi ao Senhor, dedicando-me à oração e me esforçando para não desagradá-lo. Digo-o para não faltar à verdade. Pouco me lembro dessas boas épocas, que devem ter sido raras, já que as outras foram muito mais numerosas. Poucos dias passei sem ter longos períodos de oração, a não ser que estivesse muito mal de saúde ou bastante ocupada; quando estava doente, relacionava-me melhor com Deus, procurando levar as pessoas próximas a assim ficarem, suplicando ao Senhor que as ajudasse e falando dele freqüentemente.

Desse modo, afora o ano de que falo, em vinte e oito anos de oração, passei mais de dezoito nessa luta entre lidar com Deus e lidar com o mundo.2 Nos outros, de que ainda vou falar, mudou a razão da contenda, mas a guerra ainda é dura. Contudo, estando, a meu ver, a serviço de Deus e com conhecimento da vaidade que é o mundo, tudo foi suave, como adiante direi.

4. Eu me estendi tanto, como já disse,3 para que se vejam a misericórdia de Deus e a minha ingratidão, bem como para que se compreenda o grande be nefício que Deus dá à alma dispondo-a a ter oração com vontade, mesmo que a sua dis posição não seja a necessária. Com perseverança, tenho certeza de que o Senhor conduzirá a alma a um porto de salvação, como — pelo que vejo agora — fez comigo, apesar dos pecados, tentações e mil quedas que o de mônio ocasiona. Queira Sua Majestade que eu não volte a me perder.

5. O bem que quem pratica a oração — refiro-me à oração mental — obtém já foi tratado por muitos santos e homens bons. Glória a Deus por isso! Se assim não fosse, embora pouco humilde, eu não sou tão soberba que me atre vesse a falar disso.

Do que tenho experiência posso falar: quem começou a ter ora ção não deve deixá-la, por mais pecados que cometa. Com ela, terá como se recuperar e, sem ela, terá muito mais dificuldades. E que o demônio nunca tente ninguém como tentou a mim, levando-me a abandonar a oração por hu mildade; creiam-me que as palavras do Senhor não hão de faltar se nos arre pendermos de verdade e tivermos o firme propósito de não mais ofendê-Lo; nesse caso, Ele nos recebe com a mesma amizade, concedendo-nos as mes mas graças de antes e, às vezes, se o arrependimento fizer jus a isso, muitas mais.

Por isso, peço aos que ainda não começaram que, por amor a Deus, não se privem de tanto bem. Não há o que temer, mas o que desejar. Porque, mes mo que não vá adiante nem se esforce pela perfeição, a ponto de merecer os gostos e regalos que Deus dá aos perfeitos, ao menos irá conhecendo o ca minho que leva ao céu. Se perseverar, tudo espero da misericórdia de Deus, pois ninguém fez amizade com Ele sem dele obter grande recompensa.4 Para mim, a oração mental não é senão tratar de amizade — estando muitas vezes tratando a sós — com quem sabemos que nos ama. E se ainda não O amais (porque, para que o amor seja verdadeiro e duradoura a amizade, deve haver compatibilidade; o Senhor exige, como se sabe, que não se cometam faltas, que se seja perfeito; nós, no entanto, somos viciosos, sensuais e ingratos), não podeis por vós mesmos chegar a amá-Lo, porque não é de vossa condição; mas, levando-se em conta o muito que Ele vos ama e o quanto vale ter a Sua amizade, passai pelo sofrimento de estar muito na presença de quem é tão diferente de vós.

6. Ó infinita bondade do meu Deus, que me parece que Vos vejo e me vejo dessa maneira! Ó delícia dos anjos, que, ao ver isso, todo o meu ser gostaria de desfazer-se em Vosso amor! Como é certo que sofreis com quem sofre por ter-Vos junto a si. Que bom amigo sois, Senhor meu! Como vais brindando a alma, e sofrendo, à espera de que ela alcance Vossa condição, suportando a sua, até que ela o consiga! Considerais, Senhor meu, os instantes em que ela o quer e, por um vislumbre de arrependimento de sua parte, esqueceis que ela Vos tem ofendido!

Vi isso com clareza em mim mesma, e não entendo, Criador meu, por que o mundo inteiro não procura travar convosco essa amizade particular. Os maus, que não têm a Vossa condição, deviam fazê-lo para que nos fizésseis bons. Isso acontecerá se eles permitirem que estejais com eles ao menos duas horas por dia, mesmo que não estejam convosco, mas às voltas com mil cuidados e pensamentos do mundo, como eu fazia. Devido ao esforço que fazem por querer estar em tão boa companhia, sabeis que, no princípio, e até depois, não podem fazer mais; Vós, como recompensa, impedis os ataques dos demônios, reduzindo a força destes a cada dia, ao mesmo tempo que for taleceis a alma. Jamais matais os que confiam em Vós e que Vos querem por amigo — Vida de todas as vidas! Vós lhes sustentais a vida do corpo, dan do-lhes mais saúde, vivificando a alma.

7. Não entendo o que temem os que temem começar a ter oração mental, nem sei de onde vem esse medo. Bem sabe o demônio criá-lo para provocar o verdadeiro mal, levando-me, pelo terror, a não pensar em que ofendi a Deus nem no muito que Lhe devo; assim agindo, ele não deixa que pensem no inferno, na glória e nos grandes sofrimentos e dores que Deus passou por mim.

Nessas coisas consistiu toda a minha oração enquanto eu corria esses perigos, sendo esses os meus pensamentos quando eu podia. E muitas vezes, durante alguns anos, eu me preocupava mais em desejar que passasse o tempo para mim determinado de estar ali e em escutar quando batia o relógio, do que em outras coisas boas. Com freqüência, acolhia com maior vontade alguma penitência grave do que o recolhimento em oração.

E é certo que a força que o demônio fazia — ou o meu mau costume — era tão incomparável, e tamanha a tristeza que eu sentia ao entrar no oratório, que eu precisava empregar todo o meu ânimo (que, dizem, não é pouco, tendo Deus me feito mais corajosa do que a maioria das mulheres, embora eu a tenha usado mal) para me obrigar, contando por fim com a ajuda do Senhor.

E, depois de me ter obrigado assim, eu ficava com maior quietude e alegria do que algumas vezes em que tinha desejo de rezar.

8. Porque, se o Senhor suportou por tanto tempo alguém tão ruim quanto eu, sendo claro que foi por isso que se curaram todos os meus males, que pessoa, por pior que seja, poderá temer? Porque, por mais que o seja, não o será por tantos anos depois de ter recebido tantas graças do Senhor. Quem poderá duvidar disso se o Senhor tanto me suportou, apenas porque eu desejava e procurava algum lugar e tempo para que Ele estivesse comigo, e isso muitas vezes sem vontade, graças à grande força que eu empregava contra mim ou que o próprio Senhor usava em mim? Se para os que não O servem, mas O ofendem, a oração faz tão bem e é tão necessária, quem poderia objetar que não há maior dano para os que servem a Deus e O querem servir do que deixar de fazê-la? Com certeza não posso entender que as pessoas passem com mais dores pelos sofrimentos da vida ao fecharem para Deus a porta através da qual Ele lhes daria a verdadeira felicidade. Na verdade, tenho pena delas, pois servem a Deus prejudicando a si mesmas, enquanto os que se dedicam à oração recebem a ajuda do Senhor, que, por menos que eles se esforcem, lhes dá contentamento para que suportem os sofrimentos.

9. Como tratarei adiante das alegrias dadas pelo Senhor aos que perseveram na oração, nada falarei aqui. Digo apenas que a oração foi a porta que me levou às grandes graças que recebi; se a fecharmos, não sei como Ele as poderá conceder; porque, ainda que queira entrar para deliciar-se com uma alma e cumulá-la de contentamento, Deus não terá por onde, pois a quer sozinha, pura e com vontade de recebê-Lo. Se lhe impusermos obstáculos e nada fizermos para retirá-los, como Ele poderá vir até nós? E ainda queremos que Deus nos conceda grandes favores!

10. Para que todos vejam a misericórdia de Deus e o grande benefício que tive por não ter abandonado a oração e a lição ou leitura, falarei, pois importa muito que se entenda isso, de como o demônio ataca uma alma para conquistá-la, e do artifício e benevolência com que o Senhor busca levá-la para Si. Digo-o para que se acautelem dos perigos que não evitei. Peço sobretudo, por amor de Nosso Senhor e pela grande afeição com que Ele procura fazer-nos voltar para Si, que se evitem as ocasiões de pecado; porque, uma vez nelas, em nada podemos confiar numa guerra onde tantos inimigos nos combatem e onde são tão fracas as nossas defesas.

11. Eu gostaria de saber descrever a escravidão da minha alma naquela época, porque bem entendia que estava cativa, mas não percebia em que con sistia o cativeiro, nem podia crer de todo que aquilo que os confessores não consideravam tão grave fosse tão ruim como eu o sentia em minha alma. Um deles, a quem consultei a respeito de uma reserva minha, disse-me que, mesmo que eu chegasse a um alto grau de contemplação, as relações e conversas de que eu me ressentia não me fariam mal.

Isso aconteceu nos últimos tempos, quando eu, com o favor de Deus, me afastara mais dos grandes perigos, apesar de não evitar por inteiro as ocasiões. Como me viam com bons desejos e ocupada com a oração, pensavam que eu fazia muito; minha alma, contudo, sabia que eu não fazia o que Aquele a quem eu tanto devia merecia. Lamento agora o quanto a minha alma sofreu, e a pouca ajuda que recebeu, a não ser de Deus, bem como a liberdade que lhe era dada para os passatempos e alegrias por aqueles que os consideravam lícitos.

12. Não era pequeno o meu tormento nos sermões, de que gostava muito. Quando eu via alguém pregar com espírito e discorrer bem, adquiria por essa pes soa uma afeição particular, sem que eu a procurasse e sem saber de onde me vi nha. Quase nunca o sermão me parecia tão ruim que eu não o ouvisse com von tade, embora os presentes dissessem que [o pregador] não pregava bem. Se fosse bom, causava-me um deleite particular. Eu quase nunca me cansava de falar de Deus ou de ouvir sobre Ele depois que comecei a ter oração. De um lado, con se guia grande consolo nos sermões, mas, de outro, me atormentava, porque eles me faziam ver que em muitas coisas eu não era como devia ser. Eu suplicava ao Senhor que me ajudasse; mas, pelo que vejo agora, eu não depositava total con­fiança em Sua Majestade nem perdia de todo a que punha em mim. Eu pro curava soluções, fazia esforços; mas ainda não compreendia que isso de nada serve se, mesmo não confiando por inteiro em mim, eu não pusesse a confiança em Deus.

Eu desejava viver, pois bem entendia que não vivia, combatendo, em vez disso, uma sombra da morte, sem que ninguém me desse vida e sem poder consegui-la eu mesma; e quem podia dá-la a mim tinha razão para não socorrer--me, pois tantas vezes me chamara a Si e outras tantas fora abandonado.

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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Capítulo 7




Conta como foi perdendo as graças que o Senhor lhe fizera e a vida ruim que começou a ter.
Fala dos males decorrentes de os mosteiros de monjas não serem muito fechados.
1. E assim comecei, de passatempo em passatempo, de vaidade em vaidade, de ocasião em ocasião, a envolver-me tanto em tão grandes ocasiões e a estragar a alma em grandes vaidades que tinha vergonha — em tão particular amizade como é tratar de oração — de me aproximar de Deus. Contribuiu para isso o fato de que, como os pecados aumentaram, o gosto e a alegria da prática da virtude começaram a escassear.1 Eu via muito claramente, Senhor meu, que isso me faltava por eu faltar a Vós.
Esse foi o mais terrível engano que o demônio me podia fazer sob a capa de humildade: por me ver tão perdida, passei a temer a oração. E eu tinha a impressão de que era melhor andar como os muitos.2 Porque, em ser ruim, eu era das piores, rezando apenas as orações a que estava obrigada, e vocalmente, pois não era justo fazer oração mental e relacionar-se tanto com Deus quem merecia estar na companhia dos demônios e enganava os outros, visto que, no exterior, mantinha as aparências. A casa onde eu estava não tem culpa, porque eu, com a minha malícia, fazia com que me tivessem em alta conta. Mas eu não o fazia em sã consciência, fingindo cristandade; porque, em termos de vanglória e hipocrisia — glória a Deus! —, não me lembro de O ter um dia ofen dido, pelo que posso julgar. Ao primeiro sinal, era tanto o meu pesar que o demônio era derrotado, e eu lucrava; nesse aspecto, poucas tentações tenho tido. Se por acaso Deus tivesse permitido que eu fosse tentada nisso com a mes ma intensidade com que o tenho sido em outras coisas, eu também teria caído; mas Sua Majestade até agora me tem protegido disso. Seja para sempre bendito! Na realidade, desgostava-me muito que gostassem de mim, porque eu sabia o que havia em segredo em mim.
2. Não me julgavam tão ruim porque, apesar de eu ser jovem e de estar fre qüentemente exposta a tantas oportunidades de pecado, as pessoas viam que eu inúmeras vezes me afastava, buscando a solidão para rezar e ler, falar muito de Deus, fazer pintar a sua imagem em vários lugares e conservar o ora tório, colocando nele coisas que produzissem devoção. Eu não falava mal dos outros, havendo ainda em mim outros hábitos aparentemente virtuosos. E eu, iludida, sabia aproveitar as coisas que o mundo em geral estima. Assim, da vam tanta liberdade a mim quanto às mais antigas, e até mais. Eu era obje to de grande confiança. De fato, cometer certas ousadias ou fazer coisas sem licença, como falar por alguma fresta, por cima dos muros ou à noite, num mosteiro, não eram do meu feitio. Nunca o fiz, porque o Senhor me segurava com a mão. Creio — porque com atenção e ponderação eu observava muitas coisas — que eu não queria correr o risco de, pela minha ruindade, pôr em perigo a honra de tantas boas religiosas. Como se fossem dignas outras coisas que eu fazia! Na verdade, ainda que fosse muito, o mal não era tão consciente, como o seria se eu fizesse essas coisas.
3. A meu ver, causou-me grande prejuízo não estar num mosteiro enclau su rado. Porque a liberdade que as que eram boas podiam ter sem culpa (por que não lhes era exigido mais, já que não prometiam clausura)3 a mim, que sou ruim, por certo teria levado ao inferno se eu não tivesse sido libertada desse risco por tantos meios, remédios e dons particulares do Senhor. Por isso, considero muito perigosos mosteiros de mulheres com liberdade. Eles se tornam portas abertas para que as que quiserem ser ruins tomem o caminho do inferno, em vez de remédio para as suas fraquezas.
Isso não se aplica ao meu.4 Nele, há muitas que servem ao Senhor com sinceridade e bastante perfeição, não podendo Sua Majestade, por ser bom, deixar de favorecê-las; além disso, não é dos mais abertos e, nele, respeita--se toda a observância. Falo de outros, que conheço e vi.
4. Muito me entristece que o Senhor precise fazer apelos particulares — e não uma, mas repetidas vezes — para que as monjas se salvem, dada a permissão para cortesias e entretenimentos mundanos e o tão mau entendimento daquilo a que estão obrigadas. Queira Deus que elas não tenham por virtude o que é pecado, como tantas vezes fiz. Compreender essas verdades é tão difícil que, para consegui-lo, é necessário que o Senhor ponha nisso realmente a Sua mão.
Se quisessem seguir o meu conselho, os pais que põem as filhas em mosteiros onde elas, em vez de encontrar recursos para seguir o caminho da salvação, correm maiores riscos do que no mundo fariam melhor, para a própria honra das filhas, se as casassem, mesmo em condições humildes, ou as mantivessem em casa. Isso é preferível a tê-las nesses mosteiros, a não ser que elas tenham ótimas inclinações. Mesmo assim, que Deus as ajude a conservá-las. Na casa dos pais, o mau comportamento só se mantém oculto por pouco tempo; nesses mosteiros, pelo contrário, mantém-se até que o Senhor tudo revele. Os danos atingem não apenas a culpada, mas a todas. Às vezes, as pobrezinhas não têm culpa, porque seguem o que vêem; é uma lástima verificar que, com freqüência, afastando-se do mundo e acreditando que vão servir ao Senhor e preservar-se dos perigos, elas se encontram em dez mundos juntos, sem saber como se valer nem remediar; a mocidade, a sensualidade e o demônio as convidam e inclinam a seguir coisas que são do próprio mundo; elas vêem ali o que é considerado bom, por assim dizer. Acho que elas são em parte como os desventurados hereges, que querem cegar a si mesmos e ensinar que é bom aquilo que seguem, e assim o crêem, embora não acreditem de fato, porque têm dentro de si quem lhes diga que é mau.
5. Ó enorme mal, enorme mal dos religiosos — refiro-me tanto às mu lhe res como aos homens —, que vivem onde não se guarda a religião, num mos teiro onde existem dois caminhos, igualmente trilhados: o da virtude e da religião, e o da falta de religião. Não faço justiça, eles não são igualmente trilhados; devido aos nossos pecados, o mais seguido, e mais favorecido, é o mais imperfeito. O da verdadeira religião é tão pouco percorrido que quem desejar de fato vivê-lo em tudo, seguindo sua vocação, deve temer mais os de sua própria casa do que toda a corte demoníaca. Essas pessoas devem ter mais cautela e reserva ao falarem da amizade que desejam ter com Deus do que de outras amizades e vontades introduzidas nos mosteiros pelo demônio. Não vejo de fato razão para estranharmos os tantos males que há na Igreja se os que de veriam ser modelo de virtude exibem uma imagem tão apagada que não lembra o primor que os santos do passado, com o seu espírito, dei xa ram nas ordens religiosas. Que a divina Majestade remedie tanto mal, como vê que é preciso, amém.
6. Porque, tendo começado a participar dessas coisas, visto não me parecer — por ser costume — que disso viessem para a minha alma o prejuízo e a distração — o que só mais tarde constatei —, tive a impressão de que essas visitas, tão generalizadas em muitos mosteiros, não fariam maior mal a mim que às outras, cuja bondade eu conhecia. Eu não via que elas tinham muito mais virtudes e que, onde para elas talvez não houvesse perigo, para mim havia. Não duvido de que, mesmo limitadas à perda de tempo, essas coisas envolvem perigo. Estando com uma pessoa que há pouco conhecera, percebi que o Senhor queria dar-me a entender que aquelas amizades não eram convenientes, alertando-me e me esclarecendo sobre a minha grande ce gueira: de fato, eis que vi Cristo representado diante de mim, com muito ri gor, mostrando-me o quanto aquilo lhe pesava.5 Vi-o, com os olhos da alma, com mais clareza do que o poderia ver com os olhos do corpo. A sua imagem tornou-se tão indelével que até hoje, mais de vinte e seis anos depois, ainda tenho a sensação de vê-lo. Tomada de um profundo temor e de grande perturbação, não quis mais receber a pessoa com a qual me encontrava então.
7. Muitos prejuízos me causou não saber ser possível ver sem usar os olhos do corpo; e o demônio me ajudou para que eu assim pensasse, fazendo--me entender que isso era impossível, que seria imaginação, artes diabólicas e coisas semelhantes. No fundo, porém, mantive a impressão de que se tratava de obra de Deus; mas, como aquela lembrança não me agradasse, procurei me dissuadir, sem ousar contar aquilo a pessoa alguma. Insistiam muito comigo, garantindo-me que receber aquela visita não me prejudicava e que, em lugar de perder a boa fama, eu, fazendo-o, a aumentaria. Por isso, voltei atrás. A partir de então, em outras oportunidades e com outras pessoas, permaneci vários anos nesse divertimento pestilento. No entanto, eu não o considerava, visto participar dele, como mau, embora visse claramente que não era bom. Mas nenhuma pessoa me trouxe tanta dissipação quanto essa, dada a afeição que eu nutria por ela.
8. Certa vez, entretida em sua companhia, vimos — e outras pessoas que estavam ali também o viram — uma espécie de sapo grande dirigir-se para nós, caminhando com uma rapidez que não é própria dessas criaturas.6 Não tenho como explicar o aparecimento, em pleno dia, de semelhante criatura naquele lugar, pois aquilo nunca ocorrera. E o que isso me causou por certo envolvia mistério, jamais tendo saído da minha lembrança. Ó Deus, quão grandioso sois! Com que solicitude e piedade me avisáveis de todas as maneiras, e que pouco proveito tirei!
9. Havia ali uma monja, minha parente, antiga e grande serva de Deus, muito religiosa. Ela também me alertava algumas vezes; eu, porém, não acreditava nela e ainda ficava desgostosa, pensando que ela se escandalizava sem motivo.
Disse isso para que se entenda a minha maldade, e a grande bondade de Deus, e para que se veja o quanto mereci o inferno por tamanha ingratidão. E também para que, se em algum momento Deus ordenar, e for obedecido, que se leia isto, as monjas possam tirar proveito de minhas experiências. Peço a todas que, por amor a Nosso Senhor, fujam dessas recreações. Possa Sua Majestade, através de mim, resgatar as tantas pessoas que enganei sem desejar, dizendo-lhes que isso não era ruim, e promovendo tão grande perigo com a cegueira que tinha. Certo é que, devido ao mau exemplo, como eu disse,7 causei bastante mal, sem pensar que o fazia.
10. Estando doente naqueles primeiros dias, antes que pudesse valer-me a mim mesma, eu tinha grande desejo de fazer o bem aos outros — tentação muito comum aos iniciantes, que comigo teve bons resultados. Era tanto o meu amor pelo meu pai que resolvi transmitir-lhe o tesouro que acreditava ter encontrado na oração, que eu considerava o maior desta vida. Fazendo rodeios, da maneira possível, também tentei levá-lo a ter aquele bem que tanta alegria me dava. Com esse propósito, dei-lhe livros. Ele, muito virtuoso, como já falei,8 se dedicou tanto a esse exercício que em cinco ou seis anos fizera muitos progressos; com isso, vinha-me um grande consolo, e eu muito louvava o Senhor. Provações de grande monta o atingiram de todos os lados, tendo ele sofrido todas em perfeita concordância com a vontade de Deus. Ele me visitava muitas vezes, consolando-se ao falar sobre coisas de Deus.
11. Mais tarde, quando eu andava tão destruída e sem ter oração, não tolerei dei xá-lo pensar que eu era a mesma de antes; porque passei mais de um ano sem ter oração, acreditando ser com isso mais humilde. Essa, como depois di rei,9 foi a maior tentação que tive porque, por meio dela, eu acabaria de me perder. Enquanto ora va, mesmo ofendendo a Deus algumas vezes, eu conseguia, com o Seu au xílio, recolher-me e apartar-me da ocasião. Como o bendito ho mem se apegava a esses assuntos, eu sofria por vê-lo tão enganado ao pen sar que eu tratava com Deus como costumava e lhe disse que já não orava, mas não lhe contei a causa. Atribuí-o às minhas enfermidades, porque, embo ra curada daquela doença tão grave, sempre tive e tenho ainda outros grandes ma les. É verdade que há algum tempo tenho melhorado, pois as dores não são tão intensas; no entanto, elas não deixam de me afligir de várias maneiras.
Em especial, tive durante vinte anos vômitos pela manhã, o que me impedia de alimentar-me até o meio-dia e, por vezes, até mais tarde. Agora que freqüento mais vezes a comunhão, é à noite, antes de me deitar, com muito mais sofrimento, que tenho de provocá-los com penas ou outras coisas, porque, se não o faço, é muito grande o meu mal-estar; e vejo que quase nunca estou sem muitas dores, às vezes bem graves, especialmente no coração, se bem que esse mal, antes contínuo, agora é bem raro. Há oito anos curei-me da paralisia aguda e das freqüentes febres. Incomodo-me tão pouco com todos esses males que é comum eu ter alegria, porque tenho a impressão de com isso servir ao Senhor de alguma maneira.
12. E o meu pai acreditou ser essa a causa, porque, como ele não dizia mentira, considerou, conforme o que eu tratava com ele, que também eu não a diria. Acrescentei, tentando convencê-lo mais, que já era muito esforço rezar o ofício no coro (embora eu visse que não havia desculpa para isso). Por outro lado, isso não era suficiente para deixar de fazer uma coisa que não exige força corporal, mas só amor e costume. Quando queremos, o Senhor dá sempre oportunidade. Sempre, repito, visto que, se em certas circunstâncias ou em caso de doença, não se consegue ter muito tempo de solidão, há outras ocasiões em que a saúde o permite. Na doença e em situações difíceis, a alma que ama tem como verdadeira oração fazer a dádiva dos seus sofrimentos, lembrar-se daquele por quem os padece, conformar-se com as suas dores, havendo muitas outras coisas possíveis. Trata-se do exercício do amor; pois não somos obrigados a orar quando temos momentos de solidão, porque, mesmo à falta destes, sempre se pode orar. Com um pouquinho de boa vontade, obtêm-se muitos lucros nos momentos em que o Senhor nos tira o tempo da oração com sofrimentos. E assim era comigo quando a minha consciência era boa.
13. Mas ele, com a sua opinião de mim e o amor que me tinha, em tudo acreditou, e de mim teve pena. Mas o seu espírito tinha se elevado tanto que eram rápidas as suas visitas. Logo depois de me ver, partia, dizendo que permanecer era tempo perdido. Como eu desperdiçava tempo com outras vaidades, nem me dava conta disso.
Também tentei fazer com que outras pessoas tivessem oração. Mesmo acossada por essas vaidades, eu percebia que elas gostavam de rezar e lhes dizia como meditar, e lhes dava livros, o que lhes trazia proveito. Porque esse desejo de que outros servissem a Deus, eu o tinha, como já disse,10 desde que comecei a fazer oração. Eu julgava justo que, como não servia ao Senhor de acordo com a minha consciência, a iluminação que Sua Majestade me dera não se perdesse, levando outros a servi-lo por mim. Narro-o para que se veja a minha grande cegueira ao me deixar perder e procurar ao mesmo tempo salvar os outros.
14. Nessa época meu pai foi acometido da doença que o matou, e que durou alguns dias. Fui cuidar dele, estando mais enferma da alma do que ele do corpo, presa de muitas vaidades, embora não de forma que — pelo que eu sabia — estivesse em pecado mortal nesse tempo perdido de que falo, pois, entendendo-o eu, de nenhuma maneira o estaria.
Enfrentei grandes trabalhos durante a sua doença. Creio tê-lo compensado pelo que ele passara com as minhas. Apesar de estar muito mal, eu me esforçava, pois, faltando-me ele, faltar-me-iam todo o bem e todo o consolo que ele me trazia.11 Fingindo nada sentir, mostrei-me forte, sem deixá-lo perceber a minha pena, tendo ficado ao seu lado até que expirasse; no entanto, tive a impressão, ao ver que a sua vida acabava, de que me arrancavam a alma, tanto era o amor que lhe tinha.
15. A sua morte e a sua vontade de morrer foram dignas de louvores ao Senhor. Ele nos aconselhou, depois de ter recebido a Santa Unção, encarregando-nos de encomendá-lo a Deus, de pedir misericórdia para ele; disse-nos que sempre O servíssemos, que nos lembrássemos de que tudo desta vida se acaba. Falava-nos, em lágrimas, do grande pesar de não ter servido ao Senhor como deveria; meu pai desejava ter sido um frade que seguisse a mais estreita observância.
Tenho certeza de que, quinze dias antes, o Senhor o fizera ver que não havia de viver; porque, antes disso, embora estivesse mal, não pensava nisso; a partir de então, embora melhorasse e fosse consolado pelos médicos, pouco caso fazia disso e só se importava em preparar a alma.
16. O que mais o afligia era uma permanente dor, muito forte, nas costas; esta se tornava às vezes tão aguda que o atormentava. Eu lhe disse que, por ser ele tão devoto do Senhor carregando a cruz, pensasse que Sua Majestade desejava, com essa dor, levá-lo a sentir algo do que sofrera com aquela dor. Foi tal a sua consolação que, pelo que sei, ele nunca mais gemeu.
Ele passou três dias quase sem sentidos. No dia da morte, o Senhor lhe devolveu a consciência de um modo tão perfeito que nos causou admiração. Assim se manteve até que, no meio do Credo, que ele mesmo dizia, expirou. Parecia um anjo — e estou convencida de que realmente o fosse, por ter alma tão boa, bem como disposição.
Não sei por que contei isso, a não ser para culpar mais a minha vida ruim depois de ter visto aquela morte e de ter entendido aquela vida. Eu deveria ter melhorado, pelo menos para ser um pouco parecida com o meu pai. Seu confessor, um dominicano12 muito erudito, falou que não duvidava de que meu pai tivesse ido direto para o céu. Como o confessava há alguns anos, esse dominicano louvava a sua pureza de consciência.13
17. Esse padre dominicano, virtuoso e temente a Deus, muito me ajudou. Confessei-me com ele, e ele se encarregou de zelar pela minha alma e de alertar-me para a perdição a que eu me entregara. Ele me fazia comungar de quinze em quinze dias. E, pouco a pouco, no contato com ele, falei-lhe de minha oração. Ele me disse que não a abandonasse, que ela só me podia trazer proveito. Comecei a voltar a ela, embora sem evitar as ocasiões de pecado, e nunca mais a deixei.
A minha vida era trabalhosa ao extremo, porque, na oração, eu via melhor as minhas faltas. De um lado, Deus me chamava; do outro, eu seguia o mun do. Davam-me grande alegria todas as coisas de Deus, mas eu me via li gada às do mundo. Tenho a impressão de que desejava conciliar esses dois co ntrários, tão inimigos um do outro: a vida espiritual e os gostos, alegrias e divertimentos dos sentidos. Na oração, eu passava por grandes trabalhos, por que o espírito não era senhor, mas escravo; por isso, eu não podia me recolher dentro de mim (que era o meu modo de proceder na oração) sem levar comigo mil vaidades.
Passei assim muitos anos, a ponto de agora me espantar com o fato de uma criatura poder sofrer tanto tempo sem deixar um ou outro desses contrá rios. Bem sei que deixar a oração já não estava em minhas mãos, porque Aquele que me queria para me conceder maiores graças me sustentava com as Suas.
18. Oh! Valha-me Deus! Se eu pudesse dizer as ocasiões de que Sua Majestade me livrou nesses anos, e de como eu tornava a me envolver nelas, para não falar do risco, de que Ele me afastou, de perder todo o crédito. E eu, nas minhas obras, revelava quem era, enquanto o Senhor, encobrindo o mal, fazia surgir alguma pequena virtude, se é que eu a tinha, tornando-a gran de aos olhos de todos, de modo que estes sempre me tinham em alta conta! Porque, apesar de algumas vezes as minhas vaidades se evidenciarem, todos viam outras coisas que pareciam boas e por isso não acreditavam naquelas.
O Conhecedor de todas as coisas já via então que isso era necessário para que eu tivesse algum crédito mais tarde, quando me dedicasse a Seu serviço. Sua soberana grandeza não via os grandes pecados, mas sim os desejos que eu muitas vezes tinha de servi-Lo e o pesar por não ter em mim forças para levá-lo a efeito.
19. Ó Senhor da minha alma! Como poderei enaltecer as graças que me concedestes nesses anos? E o fato de, na época em que eu mais Vos ofendia, Vós logo fazerdes com que eu me arrependesse para fruir dos Vossos favores e consolações? Na verdade, escolhíeis, Rei meu, o castigo mais delicado e mais penoso que podia existir, pois bem sabíeis o que mais dores me causaria. Castigáveis as minhas faltas com enorme ternura.
E não acredito dizer desatinos, embora pudesse estar desatinada, ao recordar a minha ingratidão e maldade.
Para mim, era muito mais penoso receber mercês, tendo cometido graves faltas, do que receber castigos. Uma única graça por certo me abalava, confun dia e fatigava mais do que as minhas muitas enfermidades, ao lado de outras provações. Estas últimas, como eu bem o via, eram merecidas, expiando de alguma maneira um pouco dos meus grandes pecados (embora tudo fosse pouco, porquanto eles eram muitos). Mas ser recebida com ternura outra vez, tendo sido tão ingrata nas anteriores, era um tormento ine narrável para mim e, acredito, para todos os que têm algum conhecimento ou amor de Deus, algo que, sendo virtuosos, podemos perceber aqui. Vinham -me lágrimas e aborrecimentos por eu ver o que sentia, percebendo-me prestes a cair outra vez, embora a minha determinação e o meu desejo fossem fi rmes naquela hora.
20. Grande mal é estar a alma só entre tantos perigos. Tenho a im pressão de que, se tivesse com quem falar disso tudo, eu teria tido ajuda para não fraquejar outra vez, ao menos por vergonha, já que, com relação a Deus, já não a tinha.
Por isso, eu aconselharia aos que têm oração que, especialmente no prin cípio, procurem ter amizade e relações com pessoas que se ocupem da mesma coisa. Isso é importantíssimo, pois, além da ajuda mútua nas orações, muito há a lucrar aí! E não sei por que (já que, para conversas e prazeres hu manos, mesmo que não sejam muito bons, procuramos amigos com quem folgar e melhor aproveitar esses prazeres vãos) não se há de permitir à alma que começa a amar e a servir a Deus com sinceridade que compartilhe da companhia de pessoas que têm oração, confiando-lhes suas alegrias e tris te zas, visto serem os seus sentimentos os mesmos. De fato, quem realmente deseja obter a amizade do Senhor não deve temer a vanglória, para que, ao primeiro sinal de fraqueza, possa escapar com mérito. Creio que, tendo esse objetivo, obterá maior proveito para si e para os seus ouvintes, adquirirá mais experiência e, ainda sem entender como, ensinará a seus amigos.
21. Quem se vangloriar por conversar sobre isso também terá vanglória em ouvir a missa com devoção quando estiver sendo observado, bem como em praticar outras coisas que, a não ser que deixe de ser cristã, a pessoa tem de fazer sem temer a vanglória.
Porque isso tem tamanha importância para almas que não estão fortalecidas na virtude — que têm tantos inimigos e amigos a incitá-las ao mal — que não sei como insistir mais. Acho que o demônio usa um ardil que muito lhe serve: ele leva os bons a ocultar o fato de buscarem realmente amar e contentar a Deus; e tem incitado a que se descubram outras amizades pouco honestas, tão em uso, quase se gloriando delas e chegando a apregoar as ofensas que, assim agindo, cometem contra Deus.
22. Não sei se falo despropósitos. Se o faço, que Vossa Mercê os revele; e, se não o faço, suplico-vos que me ajudeis na minha ignorância, acrescentando aqui outros elementos. Porque as coisas do serviço de Deus já andam tão fracas que é necessário, aos que O servem, apoiarem-se mutuamente para irem em frente, tal é a fama de bondade dos divertimentos e vaidades mundanos — para os quais poucos olhos estão atentos.14 Contudo, se uma única al ma começa a cuidar de Deus, são tantos os murmúrios que ela é obrigada a procurar defesa e companhia até ficar forte e não ter medo de padecer. Se não o fizer, ver-se-á em grandes apuros.

Creio ser esse o motivo de muitos santos irem viver nos desertos; é pró prio do humilde não confiar em si mesmo, mas acreditar que o Senhor lhe da rá auxílio em atenção àqueles com quem conversa, pois a caridade aumenta ao ser transmitida, havendo mil benefícios a ser obtidos, de que eu não falaria se não tivesse grande experiência da enorme importância disso.
Reconheço ser mais fraca e ruim que todos os nascidos, mas acredito que quem se humilha, embora sendo forte, nunca perde, razão por que precisa dar crédito a quem tem mais experiência. Quanto a mim, digo ape nas que, se o Senhor não me tivesse revelado essa verdade e me dado con dições de ter contatos freqüentes com pessoas que têm oração, eu teria ter minado, caindo e levantando, no centro do inferno. Para a queda, tinha a aju da de muitos; para levantar-me, no entanto, estava tão sozinha que até hoje me espanta não ter caído de vez. Louvo a misericórdia de Deus, pois só Ele me dava a mão.
Bendito seja para sempre e sempre. Amém.