quarta-feira, 17 de novembro de 2010

LENDO O CAMINHO DE PERFEIÇÃO-Ficha de Trabalho: Caminho 1-3

Ficha de Trabalho: Caminho 1-3

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Caminho 1-3:

Finalidade da fundação de S. José e da oração contemplativa


Avisos prévios: 1) também este ano fornecemos as fichas quinzenalmente e numa só folha, excepto esta primeira; 2) e, muito mais importante, continua a ser fundamental, em todas as secções, anotar as frequentes orações explícitas, que aparecem e a quem se dirigem, como e porquê.

Pistas de leitura1 .

Como se verá facilmente, são capítulos apaixonados, com alma (1,3-5; CE 4); história (1, 2; 3, 8) e tese (1, 2). A Santa Madre converte finalmente esta última num símbolo que lhe serve para se espraiar em qual é a missão das suas monjas e, ao mesmo tempo, para mostrar quais são, na sua opinião, os verdadeiros problemas e soluções da situação eclesial de então; portanto, prestemos atenção a isso (quer dizer, aos três sublinhados deste parágrafo). E, no meio destes capítulos, uma aparente digressão sobre a pobreza, não só oportuna, mas querida por Deus (2, 11). Portanto, anotar as vezes que aparece a palavra “experiência” e, sobretudo, de que pobreza se trata: 1) em quê ou quem se inspira; 2) em que consiste; 3) que desafogos materiais consente.

Para reflectir, rever a vida, interceder, agradecer, contemplar…

1. Certamente, ficou claro o carácter apostólico, eclesial e comunitário que a Santa dá à vida contemplativa. Também o facto de que o afirma contra toda a piedade individualista (cf. 3, 6; 1, 2) ou ‘materialista’ (cf. 1, 5) 2. – Está claro o que isto supõe para mim, para a minha comunidade, para a minha igreja local…? – E a revolução que aquilo implicava numa sociedade em que a vida religiosa feminina era vista facilmente como um ‘estacionamento’ de mulheres não casadoiras e, ao mesmo tempo, como uma servidão a favor dos benfeitores e suas intenções mais pitorescas (cf. 2, 5; V 34, 3)? – Somos assim tão livres de espírito? …
2. E, no centro destas reflexões teresianas, a mais evangélica e talvez mesmo surpreendente: esta vocação consiste, ‘mais do que’ em rezar (cf. 1, 2; 3, 5), em:

“Uma determinação operativa e resoluta: determinou-se a fazer. Mas o tom drástico desta decisão fica contrastado ou mitigado com um toque de modéstia: fazer esse pouquito. Veremos, a seguir, o ingente que é esse pouquito. Nada utópico: resolução bem enquadrada no âmbito do real, do possível: esse pouquito que eu posso e está em mim, escreveu no rascunho. Não só possível e real, mas situado na terra firme do Evangelho: esse pouquito será seguir os conselhos evangélicos. E, finalmente, um toque decisivo, que recupera a força do determinei inicial: com toda a perfeição que eu pudesse (…). Impõe-se uma dupla constatação: impossível delinear o novo carisma do grupo sem conectar com a experiência viva e eclesial da Santa. Impossível igualmente penetrar na lição do Caminho sem ter em conta esta preciosa chave da ascética teresiana 3.

3. Portanto, a questão está em ser autênticos, na coerência dos cristãos: no “braço eclesiástico e não o secular” (3, 2); não forças humanas nem armas (cf. 3, 1). – Estamos livres – pessoas e comunidades – da tentação de recorrer a estas ou outras formas mais subtis de pressão ou manipulação das consciências…?

4. Visto que a chave é a autenticidade própria, a questão passa da divisão da Igreja e da rejeição do facto ‘protestante’ para a crítica interna perante possíveis relaxações (3, 3-4):
a) Porque é uma luta difícil o estar no mundo sem ser do mundo (3, 3): – corro este risco ao evangelizar ou sou mero espectador? – Rezo pelos que estão na linha da frente ou esqueço-me do apelo premente da Santa? …
b) Por muitas infidelidades (3, 3-4;cf.V 7, 5; 27, 15): – fortaleço o meu interior (3, 4) ou lanço-me a evangelizar de qualquer maneira? – Velo e oro para ser fiel? …
c) Dada a parcialidade do mundo para julgar e a facilidade para condenar (3,4; cf. V 31, 17-18): aceito isto quando me toca, ou afecta-me demasiado? – Evito os juízos ou, pelo contrário, até me exponho a julgar regalo o que é virtude (3, 4; cf. Mt 5, 22)?
d) Oras pelos teus superiores, inclusive os mais chegados: local, provincial (cf. 3,10)?
Nota: estas questões serão aprofundadas nos capítulos 4-18.

5. Também se podem pospor até aos capítulos 33-35 as palavras apaixonadas sobre a Eucaristia de 3, 8; mas não seria conveniente deixar passar, sem mais, essa maneira de falar das outras confissões cristãs (cf. também 1,4): - compreendo o contexto da Santa? – Sou consciente da muita diferença que existe em relação ao actual discurso ecuménico da Igreja Católica? – Formo-me a esse respeito? …

6. Certamente chamou a nossa atenção a oração de 3,7-10 e ainda mais na sua primeira redacção (CE 4): compara com a tua o estilo e conteúdo desta.

7. Dentro de CE 4, 1 aparece não só uma apologia da mulher, mas uma autêntica teologia, cujo ponto de partida é a recta intenção (não pela própria salvação, nem para fazer carreira, etc.: 3,3-5) e cujos fundamentos são: 1) Cristo, a sua maneira de actuar; 2) Maria, os seus méritos; 3) Deus, juiz justo; 4) Situação histórica. – Reparaste na profundidade, não simplesmente a paixão, deste breve parágrafo? Que te parece no seu contexto? – Em que pode contribuir para o nosso ou ao teu em particular? …

A importância da pobreza já se pôs em relevo em Vida 35 e muito mais agora:
a) ao aparecer nestes primeiros capítulos e não no bloco seguinte (4-18);
b) pelo rico fundamento teológico 4 e até sociológico (2, 5-6; cf. V 20, 26-27);
c) pelo relevo dado à experiência pessoal e comunitária (2,1.3.6.7); d) e, entre outras coisas, pelos seguintes matizes em relação a V 35:

8. Não se trata só de não ter renda, mas de “não andar a contentar os do mundo (…) jamais, por artifícios humanos, pretendais sustentar-vos (…) deixai os cuidados da comida” (2, 1) e da esmola (2, 2.4) ou acabareis roubando os pobres (2, 3.9). Enfim, “seria enganar o mundo, fazendo-nos pobres não o sendo de espírito, mas somente no exterior” (2, 3): pensa, revê, ora…

9. “Ele vos há-de sustentar”, ainda que seja por terceiros (2, 1); portanto, confiar em que Ele não falta e confiai também quando aparentemente falha, quando “alguma vez vos faltar” (2, 2); – tenho experiência disto? –, soube vivê-lo assim? …

10. Obviamente, o dito anteriormente não significa que se tenha de viver fiada e desgovernadamente no económico, mas tudo o contrário: é preciso dedicar tempo e energias a cuidá-lo e a formar-se para viver essa verdadeira pobreza de espírito5; portanto, pensa, revê, ora …

11. A propósito de tudo isto, também a Santa criticou a falsa paz que dão as muitas poupanças e a sua incoerência com o destino universal dos bens da terra, embora exclua as suas filhas de dita crítica, devido à sua pobreza 6. Com certeza que muitos de nós e as nossas comunidades temos poupanças sobre cujo uso nos questionamos seriamente: – Partilhamos? – Pensamos maneiras solidárias de poupar e investir? – Estamos atentos ao apelo do papa a participarmos na banca ética 7? …

12. Voltando à Santa – mesmo que as nossas poupanças não sejam muitas –, ela acabou sendo pioneira e especialista numa coisa fundamental para a vida religiosa dos nossos dias, com frequência provida de rendas mais ou menos fixas: a importância de funcionar com orçamentos realistas e que tendam a manter a sobriedade (não a aumentar), como meio de encarnar a pobreza evangélica 8; portanto, pensa, ora, revê…

13. No texto do Caminho insiste-se, além da pobreza no pensamento e palavras (cf. acima nº8), nos vestidos e, sobretudo, na casa, até ao ponto de pedir que, se o edifício chegar a ser sumptuoso, “se torne a cair, que as mate a todas, tendo boa consciência o digo e o pedirei ao Senhor” (CE 2,8). Sem esquecer que se permite a liberdade de certa amplidão, campo e ermidas (2,9) 9: – sinto-me tranquilo neste tema ou interpelado por esta ameaça da Santa? …

14. Também no Caminho se permite guardar de um dia para o outro, o que difere dos nossos santos padres do Carmelo (cf. 2, 7) e de carismas tão actuais como o das Missionárias da Caridade, da M. Teresa de Calcutá. De facto, quando faltam os mínimos para a alimentação, é uma das poucas ocasiões em que a Santa permite às suas monjas contrair dívidas. – Qual a tua opinião? …

15. A Santa Madre impôs o trabalho artesanal às suas filhas, mas nunca permitiu que este se personalizasse, porque o sabia incompatível com a vida contemplativa 10. O Concílio Vaticano II viu conveniente animar toda a vida religiosa em sentido contrário, e a isso responderam generosamente os mosteiros teresianos. No entanto, nalgumas zonas, a diminuição do número de monjas e o envelhecimento das mesmas, torna inviável a manutenção de alguma daquelas opções laborais e cumpre os piores prognósticos da Santa a respeito de apuros, excessos… – Já tinhas pensado nisso? – Tens alguma ideia do que se deve fazer? …

16.Para a pobreza ou para qualquer outro tema, um critério precioso: “Duas horas temos de vida e grandíssimo é o prémio; e mesmo que não houvesse nenhum, a não ser o de cumprir o que nos aconselhou o Senhor, seria já grande paga imitar em alguma coisa a Sua Majestade” (2, 7); pensa, revê, ora…

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