quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Encontro com Teresa

Encontro com Teresa

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Durante o Outono de 1567, São João da Cruz, conhecido então por João de São Matias, conheceu Santa Teresa de Jesus em Medina del Campo. Este recém ordenado sacerdote encontrava-se no meio de uma crise. O seu desejo de Deus, de procurar fazer a Sua vontade, levaram-no à conclusão de que o seu lugar era a Cartuxa.

Encontrou-se com Santa Teresa e ela convenceu-o de que o caminho que ele procurava não era a Cartuxa, mas a sua família religiosa. Ela tinha um plano e uma visão do que seria possível. Ele pôs-lhe uma condição para aderir ao seu plano: que se levasse a cabo sem muita demora. Tenho-me perguntado amiúde se São João da Cruz era consciente do que ia acontecer. Saberia quão diferente poderia chegar a ser a sua vida comparada com a que desejava como cartuxo?

Penso que esse encontro de São João da Cruz com Santa Teresa de Jesus é muito simbólico. Para mim, é-o com certeza. Não creio que o meu “encontro” com Santa Teresa, ou a realização da minha vocação, seja muito diferente de outras vocações ao Carmelo Teresiano. Quando era jovem e contemplava as diferentes ofertas vocacionais, o que me atraiu ao Carmelo Descalço foram as imagens que vi em publicações vocacionais. Muitas vezes, era a imagem de um frade olhando fixamente para o nascer ou o pôr-do-sol, às vezes com o capuz levantado, contemplando o milagre da criação. Ou talvez a imagem de uma capela onde estavam todos os frades em oração ou recitando o ofício divino. Tanto silêncio! Tanta tranquilidade! Foi o que realmente me atraiu. Eu queria vir ao Carmelo para meditar, para chegar a ser contemplativo.

Depois, conheci Santa Teresa, através dos seus escritos. Li então coisas como “pois todas temos de procurar ser pregadoras de obras” (C 15, 6). Ou sobretudo quando Santa Teresa, nas quintas Moradas, em tão alto estado de vida espiritual e comentando sobre alguém que se concentra diligentemente para a oração, diz: “e pensam que aí está todo o negócio. Não, irmãs, não; obras quer o Senhor”. Tenho de confessar que isto foi para mim um desafio. Depois, quando descobri o encontro de São João da Cruz com Santa Teresa pensei para comigo que talvez eu tivesse confundido os Cartuxos com os Carmelitas, pelo menos no que se refere ao que a vida de oração era para o Carmelo de Teresa.

No ano 2000, a Ordem, através de várias editoras da Ordem, publicou as concordâncias dos escritos de Santa Teresa em espanhol. Pouco depois, folheando as concordâncias à procura de outra coisa, dei-me conta do verbo “servir”, quer dizer, “to serve” (em inglês). A lista de entradas ocupa várias páginas. Felizmente, os editores numeraram as vezes que determinadas palavras são usadas. E dei-me conta de que só este verbo é usado 810 vezes por Santa Teresa. Depois, contei o número de vezes em que aparecia a palavra “serviço” – 246 vezes. Umas mil vezes insiste Santa Teresa em que as nossas vidas de carmelitas sejam vidas de serviço… serviço a Deus, serviço à Igreja, serviço à comunidade, serviço ao plano de Deus para o mundo que nos rodeia.

A descoberta deste pequeno pormenor sobre o uso que Santa Teresa faz da palavra “serviço” foi uma grande confirmação do que já tinha aprendido, e muitas vezes resistido, ao “fazer-me” Carmelita. Ponho entre aspas a palavra fazer-me para chamar a atenção. Dou-me conta de que estou ainda em processo e que o principal significado de chegar a ser ou fazer-me é precisamente o serviço que presto. Existem certamente outros tipos e estilos de vida contemplativa. Santa Teresa, no capítulo 5 do Livro das Fundações (o capítulo para as pessoas atarefadas!), começa por dizer: “Há muitos caminhos neste caminho do espírito!” No entanto, é mais do que óbvio que a vida contemplativa sobre a qual escreve Santa Teresa é a que se mostra a si mesma num serviço concreto

Os membros da Ordem Secular que me ouviram falar talvez se lembrem de uma das coisas que constantemente lhes repito: “Ser Carmelita não é um privilégio, mas uma responsabilidade”. A responsabilidade é servir o Senhor, e leva-se a cabo atendendo às necessidades dos nossos irmãos e irmãs na Igreja e no mundo, servindo as nossas famílias e as nossas comunidades. Realmente, impressiona-me que Santa Teresa, a grande mulher que tanto fez em serviço de Deus, encontrasse tanto sentido nas palavras do Evangelho de São Lucas: “Somos servos inúteis. Não fizemos mais do que devíamos fazer” (Lc 17, 10). Espero realmente seguir o seu exemplo e ser capaz de fazer o mesmo.


Aloysius Denney

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