Ficha de Trabalho: Caminho 4-5
Caminho 4-5: Requisitos para ser contemplativas:
Amor de umas para com as outras: primeiro, em que não consiste.
Pistas de leitura
A santa madre, em coerência com o destacado nos capítulos iniciais, começa avisando que “antes de falar do interior, que é a oração direi algumas coisas que são necessárias” (4,3); dedicará a isso os quinze capítulos seguintes (4-18). “A primeira, amai-vos muito umas às outras” (cap. 4-7) e, neste contexto, dois tipos de amores lícitos (cf. 7,2) que é preciso evitar ou vigiar (4,4-9 e 4,13-5,7). Portanto, atendamos às descrições, consequências e remédios de ambos.
Para reflectir, rever a vida, interceder, agradecer, contemplar…
1. A propósito de 4,1: tenho “altos pensamentos” e esforço-me para “que o sejam as obras” ou, melhor, vivo numa atitude rotineira, conformista ou indiferente, pensando que a minha vida ou a da minha comunidade, congregação… pouco pode dar por si, ou que interessa isso ao mundo…? Se tenho esses pensamentos altos e me esforço, faço-o tendo em conta as minhas constituições ou criando, ou até improvisando, de acordo com elas?
2. É óbvio que também não se trata de ser meros cumpridores de constituições, normas ou costumes, pois “de cumprir a cumprir vai muito” (4,1), mas de buscar una autêntica relação com Deus, com os outros e consigo mesmo (cf. 4,4; Mt 6,1-18). Por isso, ainda que “o regalo e a oração não se harmonizam” e a santa supõe observada a disciplina monacal (4,2), vai insistir nas virtudes e na abnegação que implicam (4,3-4). De modo que, pensa, revisa, ora…
3. Ora, apesar da insistência da santa em que sem essas virtudes não há contemplação (4,3), é preciso estar alerta no que diz respeito ao erro contrário, para o qual advertirá no cap. 16. Recordar também V 23-31; p. ej. 23,11 ou, mais detalhadamente, www.paravosnaci.com: Recursos, Subsídios Fichas de Trabalho, Capítulos 23-31 Vida.
4. Acerca das “amizades particulares”, ficou claro que o problema são os particularismos exclusivistas1 e a amizade? Cf. V 7,20 y, sobre tudo, as páginas seguintes de Caminho (p. ex. 7,5-10). De outra forma, cairemos no equívoco ‘tradicional’ de pensar que, porque não gostamos de ninguém, gostamos de todos; e assim “poderia por aqui o demónio ir arrefecendo a caridade com os próximos e fazer-nos entender que é perfeição o que é falta” (7,6).
5. É claro que os sentimentos se inclinarão mais para umas pessoas do que para outras (4,7), mas o que importa é não se guiar por eles, mas pela verdade e pelos valores2. Por tanto, examinemo-nos atendendo às descrições do erro (4,6; 7,2-3.8.10), do ideal (4,7) e dos remédios (4,9).
6. Somos as comunidades e/ou os responsáveis capazes de “interceptar estas parcialidades” (4,9) o preferimos inibir-nos?
7. Por outro lado, é obvio que inclusive em muitos mosteiros acabou havendo “casa de lavor” (4,9) e, além disso, meios de comunicação social… Esforçamo-nos por viver o silêncio, com todas as suas ressalvas, inclusive aí ou, pelo contrário, tendemos a considerá-lo ultrapassado?
8. Liberdade (de consulta) e cultura aparecem como premissas indispensáveis para o amor autêntico e a contemplação; para que a opressão de corpo, que as monjas aceitaram voluntária e evangelicamente (cf. cap. 1-3), se perverta, como costumava acontecer, em opressão também de alma (cf. 5,1); pois este consolação é lícita e fundamental para o orante (5,5). Assim, ambas são apresentadas como remédio e garantia contra:
– enredos afectivos delas (CE 7,2) ou, sobretudo, do confessor (CV 4,16; 5,1);
– carências intelectuais do mesmo (5,3-4);
– auto-enganos: “quanta mais mercê o Senhor vos fizer na oração, mais necessário é ir bem fundada a oração e as suas obras” (5,2.4).
Cultivamos, reclamamos… essas necessárias liberdade e cultura? Agradecemo-las, celebramos…? Se sou confessor ou conselheiro, assumo e procuro esta liberdade nos ‘meus’ aconselhados? (cf. S. Juan de a Cruz: LB 3,61).
9. Se a ‘competência’ entre confessores ou consultores aumenta o nível dos mesmos (5,5), por que a reticência de tantas pessoas e grupos em conhecer algo mais (consultado, lido…) que o que ‘o padre’ ou o responsável costumam tratar?
10. Evidentemente, esta liberdade sobre a qual vimos reflectindo, deve converter-se em desculpa para buscar o que me resulta mais cómodo (cf. V 26,3) ou que acabem dando-me razão, especialmente à margem da obediência e/ou do projecto comunitário3. Por tanto, pensa, revê, ora.
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1 “Lo demasiado” [em demasia (na trad. Portuguesa)] (4,5), os “danos para a comunidade” (4,6), las “particularidades” (4,7), a vontade escrava e “as ninharias” (4,8).
2 Cf. p. ex. Mt 5,44-48 e as interpretações de S. Teresinha em Ms C 15r.28r…
3 “Como não podemos, de maneira nenhuma assenhorear a nossa vontade, para aplicá-la pura e simplesmente em Deus, enquanto não a sujeitarmos à razão, a obediência é o verdadeiro caminho para a sujeitar. Não é com boas razões que isto se alcança, porquanto a natureza e o amor-próprio têm tantas, que nunca chegaríamos ao fim; e muitas vezes, o mais razoável, se bem que não é do nosso agrado, parece-nos disparate pela pouca vontade que temos de fazê-lo”. Fundações 5,11.
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