quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Fundações: Capítulo 31 Fundação de Burgos


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Pistas de leitura 

Como se tem verificado já há três capítulos – e mais ainda neste caso -, a redacção do texto é quase imediata aos acontecimentos que narra. Além disso, este capítulo [sobre a fundação de Burgos] destaca-se por ser o mais longo de todos.

Desde o início, a Santa dá-nos as duas chaves do mesmo: por um lado, as muitas complicações que vão ter lugar; por outro, e precisamente por isso, o Senhor dará graças especiais para alentá-la (cf.4), além das ajudas habituais e fundamentais: pessoas boas e grandes colaboradoras. Teremos, portanto, de reparar em ambas as chaves e ir descobrindo os seus pormenores (as pessoas e /ou circunstâncias a que se refere, quais os sentimentos e graças que encerram…); nos diferentes momentos que o capítulo apresenta claramente: os preparativos (1-15), a viagem (16-18), um mês de espera na casa da fundadora (19-26), outro no Hospital da Conceição (27-31), a compra de casa própria (32-38), transferência da comunidade e fundação (39-45), elogio da clausura (46-47), e, finalmente, a situação económica original em que fica a comunidade (48-50). 


Para reflectir, rever a vida, interceder, agradecer, contemplar… 

1. Depressa aparece o problema que resulta de não contar com a licença escrita da autoridade para fundar (3. 15. 22). - O que é que achas do facto da Santa se atrever a meter-se a caminho sem ela, depois da experiência de Segóvia (21,5)? Por outro lado, dás valor e tens consciência da importância dessas e de outras licenças parecidas, na tua vida ou na daqueles a quem aconselhas (cf. Ficha XV, pergunta9)? 

2. Já aludimos ao texto que se segue: “Já tenho advertido algumas vezes, que Sua Majestade não me dá aviso algum quando [as fundações] se fazem sem dificuldade. Assim tem sido nisto, pois, como já se sabia o que ia passar, desde logo começou a dar-me alento” (4). – Concordas? Em teoria ou por experiência?… 

3. Apesar da segurança que o Senhor tinha dado à Santa, como se explicou no capítulo 29 (cf. 31,4, final),chama a atenção que, ao longo de todo este capítulo, se mantenha convencida da realização da fundação em circunstâncias muito, muito difíceis e quando todos os companheiros desesperavam (cf. 22.26.31). No entanto, também ela acabará por duvidar na noite anterior à chegada da licença (44,final). – Que pensas desta prodigalidade de graças? E destas duvidas finais? 

4. Por mais que Teresa não queira carregar as tintas, é evidente que o Arcebispo foi a maior complicação e, além disso, foi-o por razões, ou melhor sem razões, das mais desconcertantes, caprichosas, injustas… Em tudo se destacam os seus esforços em desculpá-lo (13.31.40): ou estaria a ironizar?), o seu pesar pelas críticas públicas que lhe faziam (45) e, sobretudo, as suas tentativas para que o seu amigo e promotor desta fundação, o Bispo de Palência, não se inimistasse com aquele pelas suas veleidades (7.44-45.50). Tudo isto é, evidentemente, um convite a rever, a orar… 

5. A propósito de ambos os Bispos, há um curioso contraste: por um lado, a cegueira do de Burgos que não só não aceita as correcções fraternas e ponderadas do seu amigo e irmão no episcopado, e até deita a culpa a Teresa (43); e, por outro, a humildade do de Palência (44). – Reler bem, compararmo-nos com um e com o outro… 

6. Se não quis carregar as tintas com o Arcebispo, fê-lo sim nos agradecimentos e louvores a Dª. Catarina de Tolosa (8-10.20.24.29-30.42), pelo que, de novo, podemos compararmo-nos com o que nela destaca, reflectirmos sobre a sua validade actual… 

7. “E assim Lhe digo [ao Senhor] que não faça caso destes sentimentos, da minha fraqueza, para mandar-me o que for servido porque, com o Seu favor, não deixarei de o fazer” (12). Uma boa e importante oração, sem dúvida! Cf., no entanto, Ficha XV, pergunta 9. 

8. A partir da viagem e ao longo de vários parágrafos, aparece com bastante protagonismo a figura do seu querida P. Graciano, embora com uma evolução valorativa decrescente, que vai da alegria e agradecimento grandes pela sua companhia nessa viagem (17), ao reconhecimento da sua intolerância para com a falta de licença escrita (22), assim como do seu nervosismo pelo passar das semanas sem poderem fundar (24), até acabar reconhecendo que “pesava-me muito que tivesse vindo connosco” (26). – Qual a tua opinião? – Inspira-te alguma coisa para a tua situação presente?… 

9. Embora tenhamos destacado os textos que se referem a Dª. Catarina, merece a pena reler e deter-se no nº 30, tanto pelo discernimento que ambas têm de fazer sobre o alcance das ajudas da fundadora (se vão ou não prejudicar com isso os seus filhos). Como pela exclamação final. 

10. Outra exclamação em que merece a pena deter-se: Mas, ó Senhor, como se vê que sois poderoso! Daquilo com que ele procurava estorvá-la tirastes Vós maneira de se fazer melhor. Sede para sempre bendito.” (31; cf. 40) 

11. Também resultam muito interessantes as razões e escrúpulos económicos à volta da compra da casa… Por isso, repare-se nos pormenores, na solução… (35-36). E nas concessões e esforços económicos finais para comprazer quem tanto as tinha favorecido numa compra tão beneficiosa: “em algumas coisas nos exigiu mais do que o combinado, mas, em atenção a ele, passámos por tudo” (37). 

12. “Nosso Senhor pagou-nos bem o que tínhamos passado trazendo-nos a um tal lugar de delícias: porque, pelo seu horto, vista e água, não parece outra coisa. Seja para sempre bendito, amen (39). Cf. “Como é certo pagardes logo com grande tribulação a quem Vos presta algum serviço! E que prémio tão precioso para os que deveras Vos amam…! (22) 

13. – Que te parece este género de elogio da clausura (46)? Não estará condicionado pela experiência desagradável desses meses de espera, sem celebração da Missa na sua residência…? Será compatível com o que tinha escrito quinze anos antes no Caminho 41, 7-8? 

14. A propósito de relações entre textos teresianos, a afirmação radical antimachista com que finaliza Fundações 31,46, há um precedente claro em Caminho 26,4.Faz pensar e orar ou achas que é antiquado e exagerado? 

15. E outro contraste mais entre a frase”…que nos tem preparado um reino sem fim, a troco de uns pequeninos trabalhos que amanhã acabarão “ (F31,47) e a que aludia à contemplação como “trabalho disfarçado com gosto” (C 18,4). É claro que todos estes exemplos nos obrigam a ter sempre em conta os contextos, sem isolar nem absolutizar as frases por belas ou impactantes que sejam… 

16. “Alguns dias depois da fundação da casa, pareceu-nos, ao Padre Provincial e a mim, que na renda dada por Catarina de Tolosa ao mosteiro, havia certos inconvenientes dos quais podia resultar algum pleito e causar-lhe a ela algum desassossego. E quisemos antes confiar em Deus do que ficar em condições de lhe dar dissabores. Por esta e por outras razões […], restituímos-lhe as escrituras” (48). Curioso epílogo que deixa a comunidade numa situação inédita entre as suas fundações: não ter renda, mas parecendo que tem, com o qual o sustento poderia complicar-se… A Santa chega a ficar preocupada com o assunto, até que de novo o Senhor a favorece com outra locução… - Reparemos, portanto, nas razões humanas de uma decisão como aquela, os sentimentos que se agitam em Teresa…