Ficha X.- LIVRO DAS
FUNDAÇÕES – I
Capítulo 22
Se Granada foi o
escritório de S. João da Cruz, Toledo não o foi menos para Teresa de Jesus.
Aqui, na cidade imperial, desde uma pobre cela do Carmelo, escreve o relato da
sua primeira fundação em terras andaluzas: Beas de Segura, província de Jaén.
Tempos aqueles, desde
esse fecundo ano de 1576, classificado por Teresa como de grandes trabalhos,
até ao ponto dela crer que ser a causa de toda esta tormenta, e que se me
deitassem ao mar, como Jonas, cessaria a tempestade (F 28, 5).
Navegando neste mar
tempestuoso e salva do naufrágio, porque, agora sim, está arrimada a esta forte
coluna da oração (V 8,2), Teresa de Jesus recorda aquela difícil e complexa
aventura fundacional que a levou a Andaluzia, sem o saber, pondo em risco a sua
relação afectuosa, em breve desfeita, com o P. Geral Rubeo.
Em Beas, teve lugar o
encontro idílico com Jerónimo Graciano, personagem chave da sua Reforma. Aqui
se forjou a entranhável relação mestre-discípulas, entre João da Cruz e as
carmelitas de Beas, com abundância de “bilhetinhos” espirituais conservados
devotamente por elas, e que hoje formam uma grande parte dos Ditos de Luz e
Amor do Santo. Também em Beas, teve Teresa a sua gota de amargura: foi o lugar
onde recebeu a dura notícia do sequestro do Livro da Vida nas mãos da terrível
Inquisição.
Pistas de
leitura
1- Os inconvenientes
(F 22,1-2)
- Uma viagem longa a
perigosa (a passagem de Despeñaperros, Serra Morena e os altíssimos penhascos
de Gualdinfierno) para uma mulher de 60 anos, de saúde frágil e em pleno
inverno.
- Uma pequena
povoação, nada semelhante aos ambientes urbanos preferidos por Teresa, muito
pouca renda (F 22, 19), tão longe da sua Ávila natal, para ela ponto de
referência das distâncias.
- A oposição do P.
Pedro Fernández às novas fundações, foi superada surpreendentemente por outra
dificuldade maior: Beas pertencia à Comenda de Santiago e era supostamente
impossível conseguir a devida licença.
Nesta ocasião, uma
dificuldade ajuda a resolver a outra, e o próprio Filipe II outorga a licença
ao saber que o futuro mosteiro era das descalças do Carmo (F 22,18).
Ficha X.- LIVRO DAS
FUNDAÇÕES – II
Algumas vezes penso
nisto – dirá Teresa – e como o que Nosso Senhor quer, embora o não queiramos
nós, se vem a realizar e chegamos a servir-Lhe de instrumento, mesmo sem darmos
por isso, foi o que aqui aconteceu com o Padre Mestre Frei Pedro Fernández (F
22,3).
2- “História
Exemplar” de D. Catarina Godínez
Tal como aconteceu
com a fundação de Alba de Tormes, a biografia das fundadoras, ou antes, uma
delas, D. Catarina, ocupa quase todo o capítulo (nn. 4-24). A Santa parece
escrever valendo-se de um guião redaccional, talvez de mão alheia, onde se
encontram registados os factos mais marcantes de tão extraordinária
história:
- Vida familiar de
uma donzela fidalga rural; conversão e mudança de vida; práticas religiosas da
jovem Catarina, agora “em hábito modesto”; oposição dos pais, doenças e luta
enérgica para fundar o mosteiro, etc.
- Encontramos no
relato, momentos tão simpáticos como o do enfado ruidoso do demónio que fez
sair da cama, de espada na mão e meio vestido, o bom D. Sancho. Sem dúvida que
os estudantes de Medicina tirariam proveito desse “Pequeno Tratado” de História
da Medicina do século XVI, escrito neste capítulo por Teresa de Jesus: todo um
catálogo de doenças que formam um quadro clínico estranho e heterogéneo,
juntamente com os remédios aplicados (ventosas, mais de 500 sangrias,
cautérios, etc.) que demonstram a fortaleza física de D. Catarina que, apesar
de tudo, foi capaz de sobreviver…
- A chave desta
história estranha e divertida encontra-se no n. 6: Teresa escreve para que
todos O louvem - a Deus, certamente, verdadeiro protagonista do livro. É por
isso que, no n.7, encontramos uma linda oração emocionada, com sabor
evangélico: Sede bendito, ó meu Deus, para sempre, pois num momento abateis uma
alma e a levantais renovada…
3- História “Actual”
da fundação (F 22,19-20)
Apenas um par de
números dedicados ao momento da fundação, tão breves que só referem o ano,
1575, da chegada das carmelitas chefiadas por Teresa no princípio da Quaresma,
a alegria do povo, o nome do novo mosteiro (S. José do Salvador, fundado no dia
de S. Matias) e uma breve menção da tomada de hábito das duas irmãs fundadoras,
mas, isso sim, adornada com novos elogios à inigualável Catarina.
Ficha X.- LIVRO DAS
FUNDAÇÕES –III
Finalmente! O que Sua
Majestade quer não se pode deixar de fazer (F 22,19).
4- Apêndice (F 22,
1-24)
O relato parece
concluir no nº 20 com a frase final, mas Teresa acrescenta uma espécie de
apêndice em que encontramos:
- O modo
“sobrenatural” como Catarina conhece a existência da Ordem do Carmo e a sua
Regra, assim como o encontro com o jesuíta que lhe dá notícia dos nossos
mosteiros (F 22, 21-22).
- Novos pormenores da
cura milagrosa (F 22, 23).
- Virtudes de D.
Catarina, já convertida em Catarina de Jesus, de quem Teresa traça com mão
firme um retrato magistral: Nenhuma coisa vejo fazer a esta alma que não seja
para ser agradável a Deus, e é assim com todas (F 22, 24). Prova de que “não é
encarecimento” (como diria a Santa) é o testemunho deixado pelo Padre Graciano
na sua Peregrinação de Anastácio, diálogo 16, pois escreve que a Madre Catarina
é das maiores santas da Ordem. Por outro lado, o próprio S. João da Cruz se
encarregou de transcrever de sua própria mão, o texto da sua
autobiografia.
- E, agora sim,
Ámen.
Para reflectir, rever
a vida, interceder, agradecer, contemplar…
1 – Lê e medita na
conversão de Catarina Godínez diante do crucifixo (F 22, 5-6); compara com V 9,
1-3, onde Teresa nos conta a sua conversão ao ver uma imagem de Cristo muito
chagado.
2 – Pode ser um bom
momento para pensar e partilhar com o grupo o teu encontro com Jesus e como
mudou a tua vida.
3 – Ora com Teresa,
bendiz e louva o Senhor (F 22, 7)
4 – Julgo que Nosso
Senhor nunca faz a uma alma mercê tão grande, sem que outras almas dela
participem (F 22, 9).
Esta interdependência
entre os membros do corpo místico de Cristo é muitas vezes apontada por Teresa
em diversos textos (4M 3,10; 5M 4,6, entre outros).
Ficha X.- LIVRO DAS
FUNDAÇÕES –IV
Cada um de nós não
anda sozinho o caminho escolhido: para bem ou para mal, arrasta outros
consigo.
- Somos conscientes
desta realidade, que é uma responsabilidade muito séria?
- Acaso o
individualismo pós-moderno, que todos padecemos, nos leva a nos esquecermos da
força do testemunho cristão? São Paulo diz que temos de levar as cargas uns dos
outros.
- Ter-nos-íamos
deixado “contaminar”, quase sem dar por isso, da tendência laicizante que trata
de se impor, segundo a qual a fé deve ser vivida no âmbito privado e
estritamente pessoal?
- É a minha oração um
intimismo mais ou menos subtil?
Recorda que Para isto
é a oração, filhas minhas; para isto serve este matrimónio espiritual: que
nasçam sempre obras, obras (7M 4,6).
- Reza novamente com
Teresa CC 1, nº 14; V 16, 6-7. Partilha a tua oração sobre estes textos com o
grupo de oração, comunitário, paroquial, etc.
5 – E, por fim, um
pedido:
Praza a Sua Majestade
que a grandíssima liberalidade que tem tido com esta miserável pecadora sirva,
de algum modo, para que se esforcem e animem os que isto lerem, a deixar tudo,
de todo em todo, por Deus (V 21,12).
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