sexta-feira, 20 de maio de 2011

Ficha de Trabalho: Caminho 26-27


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Caminho 26-27: Oração de recolhimento I

Os capítulos 26-27 estão dedicados a declarar o que é a oração de recolhimento e a oferecer meios para adquiri-la (cf. títulos dos mesmos) 1 . E como a oração cristã é sempre encontro entre duas pessoas, por isso mesmo permite contemplar o mistério nas suas dimensões fundamentais: a cristológica (caps. 26-27 ) e a antropológica (caps. 28-29 ).

Pistas de leitura
Este passo do “recolhimento” consiste na aprendizagem e avanço no caminho da oração através de uma fase de interiorização que torna a oração mais pessoal, mais profunda, mais simples e contemplativa. O primeiro painel do díptico (caps. 26-27) insiste em que recolher-se não é ensimesmar-se (…).Seria desolador entrar dentro de si e encontrar-se só consigo mesmo 2 . Qual é, portanto, a finalidade última desse constante “acostumar-se” a que a Santa nos chama nestas páginas? Que conselhos dá para isso? Que orações compartilha e facilita como exemplo e estímulo?

Para reflectir, rever a vida, interceder, agradecer, contemplar…
1. Como ficou dito anteriormente, aqui, como sempre, a Santa Madre anima a iniciar-se na oração de recolhimento; há uma grande presença de chamadas a “acostumar-se, acostumai-vos…” a várias coisas: olhá-l’O, falar-Lhe… Apesar desta abundância, a principal finalidade está clara: acostumar-se a “ que o seu Mestre o ama” (26, 10; cf. 26, 4; 27, título e 5a). Será este o fundamento e o ponto de partida da nossa oração, nossos conselhos a outros, nossa pastoral…? Revê, agradece…

2. “O exame de consciência, dizer a confissão e persignar-se, já se sabe que há-se ser a primeira coisa” (26, 1). Não se trata evidentemente do mais importante, como demonstra o resto destes capítulos. Além disso, a maioria de entre nós não segue à risca este conselho: exame, confissão, persignar-se. No entanto, a consciência de cada um e a sua situação e, ao mesmo tempo, os ‘ritos de pausa na quotidianidade’ (persignar-se, concentrar-se, posição, respiração) são, sem dúvida, fundamentais tal como a citação o indica. – Tem-los em conta? Exercitas-te neles…?

3. É óbvio que o meio mais importante é a educação do olhar, a palavra, a escuta (26, 2-10) 3 : “como O quiserdes, O achareis” (26, 3); “se estais alegres, vede-O Ressuscitado” (4); “se estais com trabalhos ou tristes…” (5). Revê, ora… Por outro lado, não te esqueças de que, embora isto seja bom, não exclui o ‘contrário’: cf. como a liturgia nos ajuda e obriga a evitar objectivismos e individualismos em excesso, quando propõe tempos e festas (Páscoa e domingos, mesmo que eu esteja triste ou penitente; Quaresma, ainda que me sinta eufórico…) ou tantos salmos como rezamos no Ofício Divino, sem que dependam do nosso estado de ânimo, mas que nos fazem solidários com os outros (cf. Completas de 6ª feira). Revê, agradece, intercede…

4. “O que podeis fazer para ajuda disto é procurar trazer uma imagem ou retrato deste Senhor que seja a vosso gosto” (26,9; cf. V 22). “É também grande remédio pegar num bom livro em romance” (26,10; cf. 17,3; V4, 9; 9, 5) e, muito mais, o Evangelho (21, 4; 26, 3-7. “Aconselharia eu aos que têm oração, sobretudo ao princípio, que procurem amizade e trato com outras pessoas que tratem do mesmo” (V 7, 20).”Aproveitava-me a mim também ver campo ou água, flores” (V9, 5). E, como não podia deixar de ser, acompanhamento de mestres (cf. V13). Toda uma lista de ajudas para ajudar a recolher-se. Reflecte, agradece…

5. A primeira e preciosa oração que aqui nos oferece a Santa (26, 6), não se reduz unicamente a tomar consciência do amor de Deus: o famoso “andemos juntos, Senhor” leva consigo propósitos de comprometer a vida por e com Ele; não se reduz a mero sentimentalismo. Uma vez mais, rever, orar…

6. A segunda oração não é menos bela, mas mais longa e até, se possível, mais cheia de pormenores do que a anterior: quase todo o capítulo 27! Multiplicam-se os motivos para contemplar, agradecer e afiançar-se: a infinita e injusta (para o nosso fraco entendimento) bondade do Pai (2b); a revelação da divindade do Filho (4); a alusão final ao Espírito Santo, para que continue o capítulo em cada um (“enamore a vossa bondade e vo-la prenda com grandíssimo amor”: 7). Por conseguinte, as evidentes intuições trinitárias que isto implica: Deus Trindade, Comunhão, é ânsia de Comunhão com todos… Portanto, há muito para aprofundar.
Mas, além disso, há pormenores talvez mais originais e curiosos, porque supõem certa correcção ao próprio Deus, como por exemplo, a sua intercessão perante o Filho para que olhe pela honra do Pai (27, 2-3; cf. o caso ao invés em 3,8). – Que achas? Que te sugere…?

7. Terá chamado a atenção a crítica da Santa ao que o casamento suponha para a mulher no seu contexto: “ vede de que sujeição vos livrastes, irmãs!” (26,4). Todos sabemos que isto é um problema e erro social, mas que o casamento cristão, embora exija a sua ascese própria, consiste na comunhão dos cônjuges e não na sujeição de um ao outro? Além disso, fica claro que a autêntica oração e vida cristã é sempre social e eclesialmente renovadora e, neste sentido, crítica e revolucionária? (cf. a questão das linhagens em 27,6)? Se não se sabia, convém aprofundar, formar-se nestes temas.



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1 “Estamos perante o tema central do Caminho. Lembremo-nos! Na pedagogia teresiana, a arte de recolher-se e entrar dentro de si é uma espécie de passo intermédio entre a oração simples rezada e a oração de pura contemplação. Degrau de passagem de uma à outra”; T.ÁLVAREZ, Paso a paso. Leyendo a Teresa con su Camino de Perfección, p.181.
2 Ibidem.
3 Começando pelo exterior “para despertar e dirigir o olhar interior: a atenção, o próprio espírito, reeducando os sentidos, aguçando a ponta penetrante da fé e do amor”: ibid.

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