Ficha de Trabalho: Caminho 19-21
I. Atitudes fundamentais: desejo e “muito determinada determinação…”
Pistas de leitura.
“Começa a tratar da oração” (cap. 19 título)1:
- Algo excelente e muito desejável (19): a) excluindo desde o principio um certo tipo de oran-te e de oração e, em vez disso, centrando-se noutro: quais e por quê? b) Destacando três grandes propriedades daquela: reparar bem nelas.
- A ela estamos todos convidados e a todos devemos de arrastar (20): por quê e como.
- Mas, não obstante, requer uma “muito determinada determinação” (21), pois o caminho está cheio de “trabalho e contradição” (19,14): quais são aquela e estes?
Para reflectir, rever a vida, interceder, agradecer, contemplar…
1. Revê cada uma das três grandes propriedades que a santa atribui à oração: tens experiência de alguma? Recorda, agradece…
2. Para aprofundar: “com que sede deseja ter esta sede!” (19,2); não há oração contemplativa de verdades a secas, mas a entrada na contemplação desperta e desvela o amor, os desejos, o sen-tido de Deus e a pulsação de infinito que late, adormecida, no espírito humano. A contemplação é um derivativo de todo o ser do orante, que se vai sentir convidado à presença de Deus e requerido de amor2.
3. Teresa alude nestas páginas ao muito que ajudaria para a oração “saber as propriedades das coisas” (19,3), ter conhecimentos científicos: que te parece? Aconteceu-te alguma vez?…
4. Há um sério perigo entre tanta riqueza: a indiscrição no desejo e as penitências… ocasiões em que será preciso que interceptar aquele (19,10.12) e “limitar o tempo de oração, por gostosa que seja” (19,13): conheces algo assim. Concordas? Revê, ora…
5.Entende-se bem porque o capítulo 19 não contradiz o 17? Cf. 20,1-3.
6. No cap. 20 a santa insiste reiteradamente no trato e linguagem que hão de ter aqueles que vão a caminho da fonte de água viva da contemplação. Aprender essa língua. Ensiná-la. Não equivocar-se passando a usar a que se fala no mundo3: este é o verdadeiro amor aos outros (4), a sua liberdade (5) e apostolado (6); cf. Ficha cap. 6-9, questões 4 e 7 e, si não se tratou então, faça-se agora.
7. “Há alguns espíritos tão engenhosos que nada os contenta” (21,3), apesar de que o melhor e mais simples é centrar a oração no Evangelho (cf. 21,4): pensa, revê, ora…
8.Achas que são actuais os medos com os quais se ameaçava os orantes (cf. sobre todo, embora não só, cap. 21)? Haverá alguma outra dimensão fundamental da vida cristã, além do exemplo da oração, sujeita a semelhantes pressões no nosso contexto actual?4
9. Sea respeito à oração o a outra dimensão fundamental da vida cristã, conheces experiências do “grande bem” descrito em 21,9? Recorda, agradece…
10. A importância da comunhão com a Igreja, para a santa está fora de questão (cf. 21,10), mas isso não evita que critique as proibições de livros espirituais (21,3; CE 36,4) ou a obrigatoriedade do latim na liturgia, com a ininteligibilidade que supunha para a maior parte dos fiéis (cf. 24,2). Como vivemos esta tensão entre fidelidade e espírito crítico?
11. A santa madre atreve-se a qualificar a opinião dos letrados e inquisidores como “opinião do vulgo” e, mais ainda, as suas vidas como não conformes à de Cristo (21,10): Que te parece? Como justificar afirmações tão atrevidas?
1 “Desta última – da oração – disse-se pouco [ao leitor]. Mas, quase sem se aperce-ber, emaranhou-se uma e outra vez na oração de Teresa. Desde o capítulo primeiro sabe perfei-tamente como ora esta mulher. Orou com ela: ‘Oh, redentor meu, que é isto que se passa agora com os cristãos…’. Assistiu aos seus solilóquios. E, pouco a pouco, apercebeu-se que ela tem um modo de orar distinto. Em exclamações explosivas, em atitudes de assombro perante o mistério de Deus presente nas coisas e na história. Tal como quando pede ou intercede como quando louva, bendiz ou diz galanteios ao Senhor. É assim que ora uma contemplativa. E precisamente dessa maneira de orar vai falar agora”: T. ÁLVAREZ, Paso a paso. Leyendo a Teresa com su Camino de Perfección, Monte Carmelo, 112-113.
2 Ibidem, 114.
3 Ibidem, 119. Aflora assim “outra grande ideia do livro: todos os grupos de oração fazem algum apostolado da oração. Não se fecham sobre si mesmos. Possuem uma ‘linguagem’ comunicante. e sabem que todos estão chamados à fonte”: ib. 125.
4 Trata-se “de uma constante na historia da espiritualidade cristã, da tensão confli-tuosa entre acção e contemplação; ou, melhor, da resistência da acção à contemplação; pugna e incompreensão dos homens de acção contra os orantes contemplativos. Uma tensão que com alternativas pendulares de maior ou menor azedume, se repete desde o episódio evangélico de Marta e Maria até nós e até ao nosso clima de ‘aggiornamento’ pósconciliar (…) [A santa] condena isso tudo com uma sentença terminante que julga toda aquela situação: esses, os que retiram livros e atacam a oração dos contemplativos, “fogem do bem, para se libertarem do mal. Nunca vi invenção tão ruim. Bem parece do demónio!” (21,8). Tal e qual. Cada vez que na Igreja pre-valece o medo ao mal sobre o amor ao bem produz-se essa fuga fatal: fugir do bem para se livrar do mal. Unidade de medida que tem alcance muito maior do que pensou Teresa nesse momento”: ib. 127-128.130.
5Ibidem, 151.
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