Quase todas as fundações realizadas por Santa Teresa, tanto em Castela como na Andaluzia, onde tinha receio de fundar mosteiros por diversas causas, como ela própria diz, ficaram assinaladas por algum acontecimento notável, digno de registo. Em Medina foi encontrar providencialmente a Santa Madre os dois homens que Deus destinava para pilares do edifício da Reforma da Ordem entre os frades: Frei António de Herédia, Prior do Carmo, e Frei João de S. Matias ou, por outro nome, S. João da Cruz. Foi justamente na vila de Medina que falou com eles pela primeira vez, ficando tudo combinado para o início do grande empreendimento, como se dirá no capítulo seguinte.
– Minhas senhoras, madres e irmãs – começa por dizer a Madre Teresa com a sua voz melíflua – quis Deus Nosso Senhor, nos Seus altos juízos, que eu fosse escolhida para Superiora deste mosteiro, cargo que venho hoje assumir por obediência. Só venho aqui para vos servir e consolar, tanto quanto eu puder. Filha sou desta casa e irmã de Vossas Rev.as. Não receeis o meu governo, porque, se é verdade que eu tenho vivido e governado entre Descalças, também sei muito bem como devem governar-se as que não o são.
Isto foi o bastante para tudo se render. Triunfara a Madre Teresa na Encarnação. A partir desse dia, as religiosas daquele convento só verão nela uma mãe solícita e meiga, que tudo faz para as conquistar todas para Deus. Volvidos alguns meses, passou a ser aquela comunidade, sob o governo da Madre Teresa e a direcção de S. João da Cruz, carmelita descalço, homem celestial e divino, no dizer da própria Santa, que ela pedira aos Superiores para confessor, modelo de observância regular e espelho de perfeição religiosa.
*
Superiora dos conventos, valia-se muita vez da sua autoridade para comer os sobejos do jantar. Sempre algoz de si mesma, era, todavia, mãe carinhosa e meiga das suas filhas.
[Jaime Gil Diez, Santa Teresa, Edições Carmelo]
Nenhum comentário:
Postar um comentário