domingo, 13 de fevereiro de 2011

ENTREVISTA COM SANTA TERESA- PARTE I

Catequese 2 - Dados gerais

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2. Santa Teresa: dados gerais

2.1 Teresa, conta-nos como eras.

- Alguma coisa já deverás saber sobre mim. Contudo, digo-te que era uma mulher abulense, carmelita, mística e humanista, contemplativa-activa, escritora-autodidacta, fundadora e líder, empreendedora e negociadora, mestra e mãe espiritual. Houve quem ainda me tivesse por santa.

Mas como eras a nível físico e psicológico?

- Fisicamente, fui uma pessoa frágil: enferma crónica; mas, psiquicamente, forte: o meu espírito nunca sucumbiu às enfermidades corporais; mantive-me sempre aberta aos valores transcendentes: Deus, Cristo, Igreja, alma…; sempre pronta para as tarefas diárias (boa cozinheira!).

Que contrastes é que notavas em ti?

- Olhando para mim, as pessoas apontam o meu sentido de transcendência (o místico) e a minha habilidade negociadora e social (realismo e humanismo). Penso ser essas as duas características de maior contraste.

E a nível social?

- Sociologicamente falando, acho que sempre fui uma pessoa aberta à amizade e à comunhão com as pessoas; das minhas relações pessoais posso destacar: S. Francisco de Borja, S. Pedro de Alcântara, D. Álvaro de Mendonça, S. João da Cruz, Pe. João Baptista Rúbeo (Geral da Ordem), S. João de Ávila (apenas por carta), Pe. Jerónimo Graciano… Apenas também ocasionalmente, S. João da Ribera e S. Luís Beltrán. Mas as minhas maiores relações foram com as Irmãs dos meus Carmelos. Destaco entre elas: as duas Anas, Maria de São José, Maria Baptista, Maria de Jesus, várias Irmãs enfermas, as três Irmãs-crianças que entram no Carmelo, etc.

Pode-se saber que sentido deste à tua vida?

- Sabes, acho que tive dias bons e menos bons como todos. Recordo os dias de luta e os momentos de crise. Porém, nunca quebrei; pelo contrário, mantive um rumo unidireccional… Identificada com a minha vocação religiosa (ser religiosa foi grandíssima mercê). Mas com um certo complexo de inferioridade feminina: uma como eu, fraca e ruim, uma mulherzita como eu, sem estudos nem boa vida… Só ao atingir a maturidade é que captei plenamente o sentido da minha existência. Identifiquei-o com a minha experiência mística e a minha missão profética: mística dinâmica; e missão, ao mesmo tempo, transcendente e terrena. Ser testemunha de Cristo e fomentadora de uma nova vida religiosa. Quis ser uma mulher capaz de dar testemunho de Deus presente no mundo e na história.

Foste uma mulher escritora. Que te apraz referir desta obra por ti empreendida?

- Fui escritora, é verdade... Mas não propagandista. Sei que até vós chegaram umas 2000 páginas autografadas, mas escrevi muitas mais. A maior parte em Ávila. Em suma:
Quatro obras maiores: Vida, Caminho, Moradas e Fundações.
Vários escritos menores: Relações, Conceitos, Exclamações, Constituições, Modo de visitar os conventos, poesias…, escritos humorísticos.
Cartas: Conserva-se quase meio milhar, mas escrevi vários milhares (mais de uma centena ao Pe. Graciano).
Escritos perdidos: além das cartas (concretamente as cartas a S. João da Cruz), várias Relações, a primeira redacção de Vida, parte do meu comentário ao Cântico dos Cânticos (= Conceitos) e uma novelita de cavalaria escrita aos 14 anos (o meu primeiro escrito).
De todas estas obras, considero Vida a mais introspectiva, o melhor retrato da minha vida; as Moradas, a minha melhor síntese doutrinal; Caminho, a mais pedagógica, a única que decidi publicar em vida, se bem que não estará cá fora antes de 1583.

Volta e meia, ouve-se as pessoas a chamar-te em castelhano ‘andariega’. Porquê?

- Porque percorri mais de mil quilómetros em toda a minha vida fundando Carmelos. Fundei em Ávila, Medina, Valladolid, Toledo, Malagón, Salamanca, Alba, Pastrana (Guadalajara), Segovia, Beas (Jaén), Sevilla, Villanueva de la Jara (Cuenca), Palencia, Soria, Burgos. Além disso, colaborei nas fundações dos ‘Descalços’ de Duruelo e de Pastrana. Outros locais por mim percorridos: Gotarrendura, Guadalupe, Madrid, Torrijos, Becedas e Duruelo…
O percurso era sempre feito de diversas maneiras (por exemplo, cavalgando ou a pé…). Ao longo das minhas obras, vou dando a conhecer ao leitor.

Obrigado, Teresa. Até à próxima!
Já sei mais algumas coisas sobre ti.

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