Transição
para a etapa mística
Capítulo 1
Prólogo
As Quartas Moradas (4M) são de transição entre a fase ascética (Moradas 1 a3) e
a mística (Moradas 5 a 7). A pessoa das 4M é um contemplativo incipiente, uma
mistura de adquirido e infuso (4M3, 14). Com experiências místicas iniciais,
pontuais e de modo intermitente de oração de recolhimento infuso (c.3), uma
vontade que acolhe os gostos divinos (oração de quietude da vontade, cap.2) Uma
vida que cede a Deus o lugar de primazia. Uma vida de corte menos ascético e
mais teologal (o amor posto nas obras e ajudado por Deus). A pessoa das 4M é
representada por duas imagens bíblicas (o jornaleiro pago com a moeda do amor,
e a esposa do Cântico dos Cânticos convidada ao idílio de amor).
Contexto
histórico
Teresa conta 39 anos quando ingressa nas 4M. Depois da leitura do livro das
Confissões de Santo Agostinho e da sua conversão diante do Cristo muito chagado
(Quaresma de 1554), tem as experiências narradas nas 4M (em forma breve e
intermitente a experiência da representação de Cristo junto a si, um sentimento
da presença certa de Deus (V 10, 1). Teresa experimenta uma nova vida interior.
Estrutura
4M 1, 1-14: Alvorada mística.
1-3: Pede luz ao Espírito Santo para exprimir os dons sobrenaturais das 4M.
4-6: Diferença entre contentamentos e gostos.
7: A disposição para as 4M é o despertar o amor a Deus.
8-14. Diferença entre pensamento e entendimento. Domínio da imaginação
inquieta.
4M 2, 1-10. Diferença entre imaginação e entendimento. Os gostos e maneira de
alcançá-los.
1. Os contentamentos espirituais.
2-6. Gostos espirituais e o símbolo dos dois tanques.
7. Dificuldades de Teresa para manter um discurso coerente.
8. Exercício da potência da vontade nas consolações.
9-10. Disposições para acolher os gostos espirituais.
Pistas de leitura. Chaves de leitura
Capítulo 1. Alvorada da etapa mística
- Porque dá Teresa ao tema das «gostos de Deus» um lugar inicial na sua
descrição das Quartas Moradas?
- Que diferença há entre contentamentos e gostos em 4M 1, 4-6?
- Como desperta a pessoa para o amor a Deus na transição às 4M 1, 7?
- Que entende Teresa por «imaginação ou pensamento» e «entendimento» em 4M 1,
8-14?
- Que conselhos dá Teresa perante a dificuldade de controlar uma imaginação
desbordante em 4M 1, 9-14?
Capítulo2
Diferença entre imaginação-entendimento
A disposição para a mística
- Qual é a relação que Teresa estabelece entre gostos espirituais e os dois
tanques de água em 4M 2, 2-6?
- Porque tem Teresa algumas dúvidas em relação à coerência da sua descrição dos
gostos espirituais em 4M 2, 7?
- Qual é a faculdade humana implicada nos gostos espirituais e de que maneira,
segundo 4M 2, 8?
- Como devemos dispor-nos para alcançar este tipo de oração, de água ou gostos
espirituais em 4M 2, 9-10?
Para reflectir, rever a vida, interceder, agradecer, contemplar…
- Achas que são possíveis experiências de “ contentamentos espirituais”
misturados com um pouco de aperto no coração?
- Já tiveste experiência de algum regalo de Deus que te tenha feito compreender
que “pouco aproveita o esforço humano” quando quer qualquer coisa?
- Já tiveste alguma vez o desejo de poder estar “num ser” nas coisas de Deus,
sem estares com as tuas faculdades humanas divididas?
- Conheces a experiência do gosto interior que deixa o coração dilatado? Ou a
experiência da paz interior profunda, embora no exterior haja problemas,
pobreza ou ameaças?
- O “amar muito” dispõe para a entrada na etapa mística. Poderias mencionar
algum exercício ou exercícios que possam despertar o amor a Deus, para que a
centelhazinha da vontade se acenda cada vez mais?
- A humildade é outra atitude que dispõe para a mística. Poderias enumerar
acções que possam ajudar a crescer na humildade verdadeira?
- Qual dos conselhos de Teresa te pareceu mais esclarecedor em relação ao
domínio adequado do pensamento desbordante?
- A respeito do tanque que simboliza a oração de quietude: - a que corresponde
a água, o tanque, o manancial, a nascente ou a profundidade da alma, a enchente
do tanque? E que valor dás a esta descrição simbólica da oração de quietude nas
4M?
Selecção de textos:
1. Em que consiste o amor a Deus em 4M 1,7:
“O que mais vos despertar ao amor, isso deveis fazer. Talvez não saibamos o que
é amar, e não me espantarei muito; porque não está no maior gosto, mas sim na
maior determinação de desejar contentar a Deus em tudo e procurar, tanto quanto
pudermos, não O ofender e rogar-Lhe que vá por diante a honra e glória de Seu
Filho e o aumento da Igreja Católica. Estes são os sinais do amor…” (4M 1,7).
2.O outro tanque:
“Está feita na mesma nascente da água e vai-se enchendo sem nenhum ruído- E se
o manancial é caudaloso como este de que falamos, depois de cheio o tanque,
segue um grande arroio; não é preciso artifício; nem mesmo se acaba o edifício
dos aquedutos, que sempre está correndo dali água…
A esta outra fonte, vem a água da sua mesma nascente, que é Deus” (4M 2, 3-4).
3.A acção de Deus em 4M: água e fogo na vontade humana
“Sente uma fragância interior – digamos agora – como se naquela profundidade
interior estivesse um braseiro onde se lançassem olorosos perfumes; nem se vê o
lume nem onde está; mas o calor e o fumo perfumado penetram toda a alma e até
bastantes vezes – como já disse – participa o corpo” (4M, 2,6).